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Os casos de pessoas que dizem que não querem viver mais servem para apelar a um maior compromisso pela vida e não na desistência dela, diz o patriarca de Lisboa.
Instado mais uma vez a comentar o debate sobre a eutanásia, que surgiu com força na sociedade portuguesa nas últimas semanas, D. Manuel Clemente diz que estas são questões fracturantes porque “nos fracturam uns dos outros”. “Uma pessoa, por circunstâncias da sua vida, da sua doença, da sua depressão ou do seu isolamento, não tem vontade de viver. Uma maneira de nos fracturarmos dessa pessoa é dizer está bem, não queres viver então não vivas", disse.
“Eu vejo sobretudo essas situações como apelo a mais convivência, presença e cuidados e portanto a comprometermo-nos mais uns com os outros no sentido da vida e não no sentido da desistência dela”, conclui o patriarca.
Nestas declarações, feitas à margem do V Congresso de Jurisprudentes de Língua Portuguesa sobre a Família, que decorre esta segunda-feira em Lisboa, o cardeal aproveitou ainda para dizer que há muito a fazer neste campo, a nível legislativo.
“Se entendemos – e não é preciso ser cristão para o entender – que a base da sociabilidade e a escola onde aprendemos a viver uns com os outros e uns para os outros é por excelência a família e a casa de cada um, então é bom que o Estado, enquanto primeiro órgão do bem comum, e a legislação favoreçam a estabilidade e a viabilidade dos núcleos familiares alargados entre várias gerações.”
“Isso tem a ver com habitação, com trabalho, com todos os recursos necessários para que a tal sociabilidade aconteça na família e a partir da família”, considera.
D. Manuel Clemente sublinhou também que a proposta cristã da família é a mesma há dois mil anos e não muda com as alterações legislativas.