O presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Lemos, receia que a crise política possa agudizar as situações de pobreza. O responsável afirma que "o combate à pobreza passa por dias difíceis" e, em declarações à Renascença, sustenta que as "crises políticas não ajudam porque criam instabilidade".
Manuel Lemos diz que " é grande o risco" de se esquecer a importância do combate à pobreza no contexto eleitoral em que entramos e defende a ideia de que, provavelmente, os populismos estão em fase de crescimento no nosso país porque "não temos sabido combater as dificuldades dos pobres".
O responsável admite que “talvez estejamos agora a pagar muitos anos em que deixamos as pessoas que trabalham e que chegam ao fim do mês sem capacidade para cumprir as suas obrigações, sem esperança de melhores dias. Talvez as tenhamos deixado indignadas porque encontram outras ao seu lado sem essas dificuldades e sem que se perceba como e de onde veem os seus recursos”. “Isso conduz aos extremismos e abre campo aos populismos”, assegura.
Manuel Lemos não esquece que o Governo apresentou, recentemente, uma estratégia de combate à pobreza que "lamentavelmente centraliza tudo na atividade do Estado que, por natureza não consegue resolver estes problemas".
Diz que o Estado “pode aumentar o rendimento das pessoas, e é bom que o faça”, mas depois, o Estado esquece “todo o lado mais imaterial da pobreza e não consegue fazer o acompanhamento necessário”. “E têm que ser as instituições da sociedade civil como as IPSS e as misericórdias a tentarem e a trabalharem no terreno, por isso falta mais sector social nesta estratégia”, acrescenta.
Numa reflexão a propósito do Dia Mundial dos Pobres, que se assinala domingo, o presidente da UMP não esquece as pessoas em situação de sem-abrigo, mas coloca a sua atenção "em todos aqueles que trabalham e são pobres".
“Todos temos uma simpatia emocional pelos sem-abrigo, mas eu hoje eu estou preocupadíssimo com a classe média e com a pobreza escondida, porque hoje há pessoas que trabalham que têm emprego e que são pobres. E são essas à cabeça que me preocupam tanto como os sem-abrigo”, afirma.
Para Manuel Lemos, “já passamos aquele período em que a pobreza era ter ou não ter recursos, dado que hoje temos pessoas que trabalham e o dinheiro não chega, e os Estados têm que se preocupar com isso e tem que definir estratégias”.