Investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) estão a estudar o comportamento dos morcegos face às alterações que estão a ocorrer nos ecossistemas com vista a contribuir para a preservação desta espécie ameaçada.
Os estudos sobre a ecologia dos morcegos são coordenados por João Cabral, director do LEA, laboratório integrado no Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), e incidem especialmente na região de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Em comunicado, os investigadores realçam o papel desempenhado pelos morcegos que “prestam um serviço relevante para muitas actividades humanas, como a agrícola, ao controlarem significativamente inúmeras pragas de insectos prejudiciais à agricultura e à saúde pública”.
Os morcegos contribuem ainda “para diminuir a aplicação de práticas de combate mais nocivas para o ambiente, como é o caso dos pesticidas ou insecticidas”.
Um dos estudos prevê a avaliação da distribuição espacial de quatro espécies de morcegos nos distritos de Vila Real e Bragança, relacionando os seus requisitos ecológicos com as características climáticas, topográficas, socioeconómicas actuais e dos usos do solo predominantes.
Dos trabalhos de conservação mais relevantes em prol dos morcegos que o LEA tem desenvolvido, destacam-se os projectos MURBE, que prevê a instalação de 70 caixas-abrigo para morcegos nos parques e jardins da cidade de Vila Real, para compensar a perda de habitat provocada pela expansão urbana, e o EcoVitis, que visou a maximização dos serviços do ecossistema vinha na Região Demarcada do Douro e que abrange, entre outros grupos de flora e fauna, os morcegos.
O LEA é também responsável pela monitorização de longo-termo das medidas compensatórias para morcegos implementadas ao abrigo do Aproveitamento Hidroelétrico do Baixo Sabor, um projecto financiado pela EDP.
Em Portugal Continental estão descritas 25 espécies de morcegos. Nove estão em perigo devido à destruição ou perturbação dos seus abrigos.
Melhorar o conhecimento sobre os morcegos
A investigação, desenvolvida no âmbito do mestrado de Luís Braz, quer “contribuir para melhorar o conhecimento sobre os morcegos, cujo estatuto de ameaça é ainda desconhecido” e visa também “a criação de uma ferramenta de apoio à gestão ambiental que ajudará os gestores e decisores responsáveis pela conservação deste grupo de animais”.
Luís Braz realça a grande importância da função ecológica destas espécies “uma vez que todos os morcegos europeus são insectívoras, alimentando-se da grande maioria de artrópodes da nossa fauna”.
“Caçam durante a noite usando um sistema de ecolocalização por emissão de ultra-sons. Contando que um morcego pode ingerir desde metade até ao dobro do seu peso por noite, um único morcego com dez gramas pode caçar até 20 gramas de insectos”, explica o investigador.
Já Luís Ochoa, no seu trabalho de mestrado, está a analisar a diversidade de morcegos na área urbana da cidade de Vila Real e Sandra Faria, também aluna de mestrado, debruça-se sobre a análise da diversidade e abundância de morcegos em bosques de folhosas autóctones, no campus da UTAD.