Rui Manuel Sousa Valério é o 18º Patriarca de Lisboa. Tem 58 anos e é natural da Urqueira, concelho de Ourém.
D. Rui Valério foi ordenado bispo em 2018, tendo sido até agora bispo das Forças Armadas e Segurança, missão que na altura disse ter recebido de forma “incrédula” e com “surpresa”.
A tomada de posse da
diocese vai acontecer a 2 de setembro, pelas 11h00, na Sé Patriarcal, diante do
Cabido. A entrada solene tem lugar no dia seguinte, domingo, às 16h00, no
Mosteiro dos Jerónimos.
Rui Manuel Sousa Valério nasceu a 24 de dezembro de 1964 e, conta, a fé entrou-lhe pelo coração dentro desde pequeno. Aos sete anos esteve internado em Coimbra, por causa de uma queimadura grave. Sujeito a várias intervenções cirúrgicas que correram sempre mal, “entretinha-me muito a pensar na Senhora de Fátima e rezava o terço”, contava ao programa da Renascença "Aura Convida", em maio de 2019.
Passou quase cinco meses internado e não tem dúvidas que foi ali que a sua fé começou a ser estruturada. Anos mais tarde, quando entrou no noviciado, redescobriu Jesus Cristo em quem começou a confiar.
Ainda em declarações à Renascença, D. Rui Valério revelou que a avó materna foi testemunha do milagre do sol em Fátima e que foi com ela que teve a primeira catequese. Chegou mesmo a achar que Nossa Senhora fazia parte da sua família tal era o diálogo próximo que a avó tinha sobre Fátima.
Não pensava em ser padre, mas tinha uma predisposição para a fé
Na altura, o jovem Rui Valério entrou no seminário de Monfortino para avançar nos estudos. "Tinha uma predisposição para a fé, mas não pensava logo em ser padre”.
"Houve três coisas que me tocaram logo profundamente: Nossa Senhora; a missão (que me punha a sonhar) e por fim a vida comunitária e de proximidade."
Foi no início da década de 90 que D. Rui Valério professou os seus votos perpétuos, na congregação dos Padres Monfortinos, e foi ordenado padre, em Fátima, a 23 de março de 1991.
Como sacerdote, esteve em paróquias do concelho de Castro Verde, na Diocese de Beja, primeiro como coadjutor, de 1993 a 1995, e depois como pároco, de 2001 a 2007.
Rui Valério gosta do contacto permanente com as pessoas e guarda no coração as missões no Alentejo onde chegou a dar educação religiosa e católica, trabalhava com histórias, teatros e músicas para evangelizar de forma mais fácil junto dos mais novos que depois fazia chegar a mensagem aos pais.
Guerra na Ucrânia é uma pesada derrota da humanidade
Riu Valério conta com um percurso com vários anos de serviço junto das forças militares. Entre 1992 e 1993, foi capelão militar no Hospital da Marinha, serviço que assumiu também na Escola Naval, de 2008 a 2011. O novo patriarca de Lisboa foi também coadjutor na paróquia da Póvoa de Santo Adrião, no Patriarcado, de 1996 a 2001.
“Quando o Núncio me chamou [para anunciar que seria o novo Bispo das Forças Armadas] pensei que tinha sido por outra razão. Nesse fim de semana, na paróquia, os jovens tinham feito um teatro e uma das personagens era o bispo de Lisboa. Pensei que me tinham chamado por isso”, contava à Renascença ao mesmo tempo que sorria.
Quando assumiu este novo cargo, Rui Valério dizia estar a assumir “um compromisso de promoção e salvaguarda da dignidade humana”, mas também a aceitar o desafio de respeitar “esse bem tão precioso que é a separação entre o Estado e a Igreja, de facto, a laicidade é um valor adquirido e reconhecido que faz parte do património de civilização já conseguido”.
Em entrevista à Renascença, em 2021, defendia que a instituição militar e as forças de segurança poderiam ter sido mais bem aproveitadas durante a crise sanitária provocada pela covid 19. “O país tem aqui uma força que, na minha modesta perspetiva, podia aproveitar melhor”, acrescentando que "as Forças Armadas são os alicerces da nação."
Sobre o conflito instalado entre Rússia e Ucrânia, D. Rui Valério expressou publicamente que tal foi “uma pesada derrota para a Humanidade” mostrando “o lado mais tenebroso da realidade, como a morte, o sofrimento de inocentes e a miséria”. Lembrou que “a par de uma intensa preparação militar e estratégica, que já acontece, é também necessária uma preparação de cariz humano e espiritual, ao nível da interioridade de cada um”.
“Viver de costas voltadas para valores éticos significa viver de forma medíocre”
Face à crise dos abusos sexuais no âmbito da Igreja, D. Rui Valério defendeu o cuidado e atenção necessário às vítimas de abusos sexuais por elementos da igreja, após conhecido o relatório da comissão independente, lembrando que este era agora o tempo das vítimas e da igreja ir ao encontro delas.
Numa análise dos novos tempos, este defensor da vida lamentou o desprezo pela Ética, pelos valores que lhe estão subjacentes (a verdade, a justiça, o carater, a honestidade) e que considera que todos os dias estão a ser violentados, dizendo que “viver de costas voltadas para valores éticos significa viver de forma medíocre”, afirmava na homilia da Missa no Dia do Instituto Pupilos do Exército, em maio passado, no Mosteiro dos Jerónimos.