Políticas afegãs realizaram este domingo em Cabul a sua primeira conferência de imprensa sob o novo regime talibã, seguida de um protesto nas ruas da capital para reivindicarem os seus direitos e o fim das restrições às mulheres no Afeganistão.
A conferência de imprensa, a que assistiram cerca de 150 mulheres e que se centrou no direito das mulheres à igualdade entre sexos, decorreu na sede do Movimento para a Mudança no Afeganistão, o primeiro partido afegão liderado por mulheres e dirigido, desde a sua fundação em 2013, pela influente deputada e ativista Fawzia Koofi.
“Os talibãs não deveriam retirar às mulheres os seus direitos à educação e ao trabalho. Deve garantir-se a participação das mulheres na política e nas atividades económicas”, defendeu uma das organizadoras, Ghazalla, citada pela agência espanhola Efe.
Membro do comité do partido, Ghazalla criticou o facto de os talibãs estarem a afastar-se das promessas feitas sobre o respeito dos direitos das mulheres no acordo de Doha, assinado em fevereiro do ano passado entre o movimento islamita radical e os Estados Unidos, ao limitar o seu papel na sociedade e impor-lhes cada vez mais “restrições”.
As violações desses direitos são numerosas, indicou a responsável política: como o fim do acesso das funcionárias do Estado aos escritórios onde trabalham, a permissão de regresso às escolas do ensino secundário apenas dos rapazes, a dispersão violenta de protestos femininos ou a dissolução do Ministério dos Assuntos da Mulher.
Também não há mulheres no Governo interino, formado exclusivamente por talibãs, ao contrário da promessa que tinham feito de formar um Governo “inclusivo”.
“Este é o tipo de coisas que as mulheres não podem tolerar por mais tempo”, observou Ghazalla, sublinhando que as afegãs “estão preocupadas”, porque os talibãs dizem uma coisa e a seguir, “na prática” fazem outra.
Mas, advertiu a política, “as mulheres de hoje não são as mesmas da década de 1990, os talibãs enfrentam agora uma geração de mulheres diferente, educada e bem informada. Não aceitaremos as decisões discriminatórias dos talibãs”.
Assim, acrescentou, continuarão a erguer a voz e a defender os seus direitos por “todos os meios pacíficos possíveis”.
Pouco depois de terminar a conferência de imprensa, vários talibãs chegaram à sede do partido a perguntar por que razão tinham organizado um evento “para falar contra o sistema”, mas as participantes já haviam abandonado o local, para marcar presença num protesto pelas ruas da capital.
As manifestações têm sido um dos principais modos de protesto das afegãs, e algumas delas foram violentamente dispersadas pelos talibãs.
O protesto deste domingo dirigiu-se para o edifício que albergava o eliminado Ministério dos Assuntos da Mulher e que agora acolhe a pasta do Vício e da Virtude.
“A eliminação da mulher é a eliminação do ser humano. Vocês tomaram a nossa terra sagrada, mas não tomarão os nossos livros e canetas! O direito à educação e ao trabalho é o símbolo da liberdade!”, foram algumas das palavras de ordem repetidas em coro.
Muitas recordam o anterior regime talibã, entre 1996 e 2001, durante o qual as mulheres se tornaram reclusas nas suas casas e foram proibidas de trabalhar, e as meninas de ir à escola, podendo apenas sair à rua acompanhadas por um familiar do sexo masculino e cobertas da cabeça aos pés por uma ‘burqa’, pelo que agora se recusam a deixar que a mesma coisa se repita.