Nélio Lucas, empresário na área do desporto e ex-diretor executivo da Doyen, foi ouvido esta quarta-feira na 21.ª sessão do julgamento Football leaks. A testemunha acusa Rui Pinto de extorsão.
“Este artista tentou ganhar dinheiro, mas a ameaça não colou”. Foi desta forma que Nélio Lucas, antigo CEO da Doyen, empresa que faz investimento especulativo na área do futebol, se referiu ao alegado pirata informático Rui Pinto em julgamento.
Ouvido como testemunha explicou que “em 2015 todo o mundo do futebol estava em sobressalto, porque o Football Leaks divulgava informação confidencial de vários sítios, clubes, etc… Estava tudo em polvorosa a tentar perceber o que aconteceu. Primeiro achamos que a fuga era do Sporting, mas a partir do momento em que aparecem contratos internacionais começamos a pensar que a fuga vinha a FIFA. Até que se fez luz com o tal email que recebi”.
Foi em setembro de 2015 que recebeu uma mensagem de correio eletrónico de Rui Pinto, contou Nélio Lucas.
“Alguém que se apresenta com nome de Leste, Artem Lobuzov. Dizia que a fuga era maior do que eu pensava, que tinha acesso a toda a documentação e que tudo podia acabar na mão de terceiros se eu não quisesse evitar.”
De acordo com o empresário, “o email dizia que tudo isto podia ser evitado através de uma contribuição generosa, um valor de resgate para documentação que a pessoa tinha na sua posse. Percebi que alguém me estava a querer extorquir dinheiro. Se não me engano recebi no email na caixa postal da Doyen e no correio pessoal”.
"Estupefacto e com medo”
A testemunha admitiu perante o coletivo de juízes ter ficado “estupefacto e com medo”, mas ao mesmo tempo “percebeu o que estava a acontecer”.
Nélio Lucas revelou então a sua resposta ao email: “diz-me quem és e o que pretendes?”, sublinhando que antes nunca tinha acontecido tal coisa com a Doyen.
A testemunha garantiu “nada que estivesse na posse daquele senhor [Rui Pinto] me preocupava em termos criminais” e revelou que na troca de emailsm perante a chantagem de que tudo iria ser entregue às autoridades, devolveu uma resposta a Rui Pinto dizendo que era o melhor que fazia.
A manhã ficou praticamente preenchida pelo esclarecimento exaustivo da testemunha sobre o que era a Doyen. Nélio Lucas esclareceu que a empresa, com sede em Malta, foi formada em 2011, constituída por si como CEO com 20% e por Malik Ali, um cidadão turco, parceiro financeiro que detinha 80%, um homem abastado frutos dos “negócios da família”, negócios esses que apesar da insistência dos juízes e ministério publico nunca foram identificados.
A Doyen foi descrita como uma empresa de investimento em talento, identificava atletas que pudessem ter valorização futura. “Olhávamos para o mercado e identificávamos um atleta com valor e apostávamos nisso com sucesso, são apostas sempre em atletas embrionários na carreira, não investimos em atletas com mais de 23 anos e menos de 18 e que pudessem dar rentabilidade três vezes mais do que valem na altura”. Nélio Lucas que este é um negócio onde nunca há prejuízo.
A juíza presidente quis saber como conheceu Malik Ali. Nélio Lucas afirmou tê-lo conhecido em Londres “entre amigos comuns”. “Ele foi-me apresentado como vindo de uma família proeminente ligada a vários negócios: mineração, imobiliário, etc…”, disse.
A testemunha referiu que já não é representante da empresa Doyen onde trabalhou entre 2011 até 2017.
De acordo com a acusação do Ministério Público, Rui Pinto acedeu ao sistema informático da Doyen Sports Investements Limited. Primeiro tentou aceder ao computador de um funcionário e depois ao mail do responsável informático, chegando a documentos onde se encontravam passwords e utilizadores de toda a empresa, ferramentas que abriam portas a informação confidencial de contratos com jogadores, tabelas de valores a pagar.