A baixa no crescimento da economia portuguesa estava prevista pelo Governo e por várias instâncias internacionais. E segue a evolução da economia europeia. O abrandamento económico na Alemanha, no primeiro trimestre deste ano, por exemplo, foi maior do que o esperado.
Quanto a Portugal, o Ministério das Finanças esforçou-se por ver aspetos positivos num crescimento no primeiro trimestre que foi o mais baixo em ano e meio – 2,1% em relação ao período homólogo de 2017. O investimento subiu, de facto, alguma coisa, mas a base é muito baixa. E o crédito ao consumo, não ao investimento, atingiu em março o valor mais alto de sempre.
O ministro Centeno chamou a atenção para fatores temporários que limitaram o crescimento do PIB no primeiro trimestre, mas o INE esclareceu que tinha tido em conta esses fatores, isto é, descontou-os. Também salienta o Ministério das Finanças o crescimento do emprego, que é positivo; só que três quartos dos empregos criados recebem o salário mínimo. Que é feito da retórica do PS contra uma economia de baixos salários?
Importa ver, também, o lado negativo. Aumenta a distância entre a nossa economia e a do conjunto da zona euro, que cresceu 2,5% em termos homólogos, no primeiro trimestre. A economia portuguesa é das que menos cresce na UE.
O abrandamento económico terá consequências no défice orçamental. A agência de notação financeira Moody’s (que ainda mantém a dívida pública portuguesa a nível de “lixo”) prevê que o PIB de Portugal apenas cresça 2,1% no ano corrente, contra a previsão governamental de 2,3%. Se tal se confirmar, o défice aumentará para o número inicialmente previsto, evaporando-se a alegada folga orçamental de 800 mil milhões de euros “que pôs o governo do PS em pé de guerra com os partidos da esquerda parlamentar”, como ontem escrevia Luís Reis Ribeiro no “Diário de Notícias”.
O mais preocupante, porém, é a perspetiva a médio prazo. É que a maioria das previsões aponta para o lado descendente nos próximos anos, pondo em causa o objetivo de, num dia não muito longínquo, chegarmos à média europeia de riqueza. A demografia não ajuda, sendo Portugal um dos países com mais baixa taxa de natalidade na Europa. Se numerosos setores, da construção civil à indústria transformadora, agora já se queixam de falta de trabalhadores, o que será daqui a uma década?