O reforço da capacidade produtiva e da autonomia no fornecimento de medicamentos para os diferentes mercados onde opera, nomeadamente os EUA, foi o objetivo do investimento de 30 milhões de euros inaugurado esta sexta-feira pela Bial no campus da Trofa.
Num encontro com jornalistas à margem da inauguração da nova fábrica de antibióticos e da ampliação da área industrial da farmacêutica portuguesa, o presidente executivo (CEO), António Portela, destacou tratar-se do “primeiro grande investimento industrial” feito no campus, hoje com mais de 24 hectares e onde a empresa está instalada há 27 anos.
“A verdade é que, até hoje, fizemos duas ampliações da área de Investigação & Desenvolvimento (porque é aquilo que para nós é mais importante), mas não tínhamos feito ainda nenhuma na parte industrial”, disse, salientando: “No fundo, estamos a preparar o nosso campus industrial para os próximos 10, 15, 20 anos”.
Em causa está um investimento de 30 milhões de euros numa nova fábrica de antibióticos e na expansão do edifício industrial do grupo Bial, que se traduzem na mais do que duplicação da capacidade produtiva.
“Em termos gerais, na fábrica principal que já existia, tínhamos capacidade para produzir 10,5 milhões de embalagens e ficámos, agora, com uma capacidade de 23 milhões. Nos antibióticos, passamos de 1,5 para três milhões. Portanto, mais do que duplicamos a nossa capacidade”, avançou o CEO.
No edifício industrial, com uma área de mais de dez mil metros quadrados, o investimento concretizado "dará resposta às especificidades de alguns mercados internacionais", como é o caso do norte-americano (onde o acondicionamento de medicamentos é efetuado em frascos, em vez dos tradicionais ‘blisters’ usados na Europa), permitindo que a Bial passe a produzir na Trofa os medicamentos que exporta para os EUA.
“Hoje produzimos no Canadá para os EUA e, a partir do meio do próximo ano, vamos começar a produzir e exportar diretamente a partir daqui para os EUA”, explicou António Portela.
Assim, as novas instalações contemplam uma linha automática de embalagem em frascos com capacidade, em média, para 3.000 frascos/hora, permitindo à Bial passar a produzir e acondicionar a partir de Portugal os dois medicamentos de investigação própria – para a epilepsia e para a doença de Parkinson - que comercializa através de parceiros locais nos EUA, mercado que, em 2021, representou 21% da faturação da empresa.
Adicionalmente, a expansão do campus Bial integra uma nova fábrica de antibióticos, cuja construção foi iniciada em maio de 2021 e que se assume como “uma unidade autossuficiente, com infraestruturas ao nível da produção, controlo da qualidade e armazém”.
Segundo o CEO, esta unidade “vem responder às exigências e especificidades inerentes ao fabrico de antibióticos”, reforçando a capacidade instalada numa “área crítica e estratégica” onde a farmacêutica portuguesa diz ter, “se necessário, condições de assegurar a produção anual equivalente ao consumo do antibiótico mais utilizado em Portugal”.
Com “capacidade instalada para duplicar a produção de 1,5 milhões de embalagens em ‘blister’ e em frasco para três milhões de embalagens”, a nova fábrica de antibióticos deverá destinar 50% da produção para mercados externos.
Enfatizando que estes investimentos traduzem o “forte compromisso industrial” da Bial com Portugal, António Portela assegurou que o país “é a base, o centro das operações da empresa, quer a nível industrial, quer dos projetos de investigação”.
“Estamos a exportar os medicamentos que produzimos e a nossa tecnologia inovadora para os doentes de todo o mundo. Estamos a incrementar de forma exponencial a nossa capacidade industrial, concretizando a ambição da progressiva reindustrialização de Portugal e da Europa”, acrescentou.
Após ter faturado 310 milhões de euros em 2020 e 325 milhões de euros em 2021, a Bial prevê terminar este ano – que o CEO descreveu como “um ano duro” - com um "pequeno crescimento” homólogo.
Os mercados de Portugal e Espanha respondem atualmente cerca de metade da faturação total da empresa, enquanto os EUA representam 21% e o restante se concentra, sobretudo, na Europa e no Japão.
No segmento dos antibióticos, 50% das vendas da farmacêutica portuguesa são para o mercado interno, sendo “a maior parte” das restantes vendas canalizadas para mercados emergentes, nomeadamente na América Latina e África e, também, para alguns países europeus.