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Mais de 90 pessoas morreram nos últimos quatro meses nos incêndios florestais em Portugal: 64 nos incêndios de Junho e pelo menos 31 nos vários fogos que deflagraram no domingo na região Centro do país. Quanto a feridos, estão registados 250.
Foram condições meteorológicas excepcionais que dificultaram o combate às chamas este ano e agravaram as consequências dos incêndios como nunca na história do país, com um balanço negro.
Estas consequências inéditas, designadamente as dos incêndios na região Centro, levaram mesmo a oposição a exigir que o primeiro-ministro, António Costa, assumisse consequências políticas da tragédia e a pedir a demissão da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.
De lá até hoje, houve poucas mudanças na Proteção Civil: demitiu-se o assessor de comunicação, Fausto Coutinho, em Julho. O comandante nacional da Proteção Civil, Rui Esteves, também saiu, mas por se ter tornado pública a informação de que fez a licenciatura com recurso a equivalências.
Entretanto, durante todo o Verão, foram ouvidas muitas críticas à falta de meios e de estratégia no combate aos incêndios, com o dedo apontado às mudanças na estrutura de topo da Proteção Civil feitas desde que o Governo de António Costa entrou em funções.
Segundo foi noticiado pela imprensa, foram nomeados mais de dez novos comandantes distritais e quatro mudaram de cargo. Nove são novos na estrutura.
Com o país a arder e muitos a apontarem o dedo aos incendiários, o relatório da comissão independente divulgado na semana passada desmistificou o peso do fogo posto.
No documento, os peritos consideram que dizer que a maior parte dos incêndios florestais tem origem criminosa é "um mito profusamente difundido pela comunicação social" e "inadvertidamente" aproveitado por alguns políticos, contribuindo para a "desresponsabilização da sociedade".
Afirmam os peritos que o facto de se continuar a passar a ideia de que a maior parte das ignições resulta de atos dolosos tem contribuído para que Portugal apresente "um elevadíssimo número de ignições quando comparado com os restantes países do Sul da Europa", sendo que 98% das ignições que originam incêndios têm origem humana, mas na sua maior parte por negligência e acidentes.
Parece tudo ter falhado e os técnicos falam ainda de informação ocultada pelo actual comandante operacional nacional da Proteção Civil, Albino Tavares, que ordenou, na madrugada de 18 de junho, aos operadores de comunicações para que não registassem mais alertas na fita do tempo do incêndio de Pedrógão Grande.
O Governo veio, pela voz do primeiro-ministro, dizer que assumiria as consequências políticas desta tragédia e o Presidente da República veio lembrar que Portugal aguarda com expectativa estas consequências.
Já hoje, sobre os incêndios do fim-de-semana, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou: "Não é possível dizer que as conclusões de Pedrógão não tenham servido para agora, porque essas conclusões no essencial estiveram prontas e entregues no dia 12" e a "tragédia" de domingo "acontece muito menos de uma semana depois".
Também esta segunda-feira, depois do pior dia do ano em termos de fogos florestais, com mais de 500 incêndios, o primeiro-ministro anunciou que o Governo assinou um despacho de calamidade pública, abrangendo todos os distritos a norte do Tejo, para assegurar a mobilização de mais meios, principalmente a disponibilidade dos bombeiros no combate aos incêndios.
Portugal acionou igualmente o Mecanismo Europeu de Proteção Civil e o protocolo com Marrocos, relativos à utilização de meios aéreos.
Seca extrema e o mês mais quente dos últimos 87 anos
Depois de um Verão com temperaturas elevadas e pouca chuva, Portugal chegou a Outubro com mais de 80% do território continental em seca severa, segundo o último Boletim Climatológico do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
O IPMA classificou, aliás, o mês de Setembro como o mais quente dos últimos 87 anos.
Quanto à área ardida, os incêndios queimaram, até final do mesmo mês, mais de 70% do Monumento Natural das Portas de Ródão e mais de metade da Paisagem Protegida da Serra da Gardunha. Foram mais de 20 mil hectares destruídos – o valor mais alto dos últimos dez anos.
Ainda assim, em número de ocorrências, este ano apresenta o 5.º valor mais baixo.
As condições meteorológicas excepcionais fizeram o Governo prolongar este ano até final de Outubro o período crítico do Sistema de Defesa da Floresta, que prevê a proibição de lançar foguetes e fazer queimadas e fogueiras nos espaços florestais.