"Para as rotas alternativas, seriam necessários 10 anos de investimento para tentar construir as infraestruturas necessárias para substituir estas infraestruturas portuárias do mar Negro, que levámos cerca de 20 anos a construir desde o ano 2000”, disse Taras Vysotsky, numa entrevista à agência de notícias AFP.
“Estas rotas alternativas são importantes”, mas só permitem o transporte de um terço das exportações ucranianas, ou seja, 20 e 25 milhões de toneladas por ano contra 60 ou 70 milhões de toneladas através das instalações atuais, sublinhou.
Entre esses caminhos, Taras Vysotsky citou as ferrovias, camiões e navios que passam pelos portos da Roménia e da Polónia, em particular.
Os aliados ocidentais da Ucrânia estão a procurar formas de desbloquear os portos ucranianos no mar Negro, começando com Odessa, o principal porto de produção agrícola do país, para aumentar as exportações de cereais, dos quais a Ucrânia é um dos maiores produtores mundiais. E, ao mesmo tempo, limitar a inflação nos mercados mundiais e a crise alimentar que ameaça os principais clientes da Ucrânia, principalmente nos países africanos e do Médio Oriente.
Kiev continua a exigir “garantias de segurança” para desbloquear os portos ucranianos.
“Sem garantias muito concretas que permitam a entrada e a saída de navios com segurança, não podemos permitir tais ações”, enfatizou Taras Vysotsky, acrescentando que “a Federação Russa não se revela pronta” para conceder nenhuma.
Taras Vysotsky lembrou que cerca de 20 milhões de toneladas de cereais de 2021 ainda estão retidas na Ucrânia.
Entretanto, esses cereais não parecem ameaçados de apodrecer no momento.
“Se as condições de armazenamento necessárias forem atendidas, os cereais podem ser armazenados de forma muito eficiente por até dois anos”, realçou.
Referindo-se a um recente ataque russo a um dos maiores terminais de cereais do país, na região de Mykolaiv (sul), estimou que “10 a 15% das infraestruturas foram destruídas por foguetes da Rússia”.
Retomando as acusações já feitas pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, o vice-ministro da Política Agrária afirmou que Kiev tinha “evidências de cerca de meio milhão de toneladas foram roubadas das regiões parcialmente ocupadas” pela Rússia, citando especificamente as regiões de Kherson, Zaporijia e Lugansk.
“Recebemos evidências de imagens de satélite a mostrar que cereais foram transportados para a Síria. Informamos a todos os países, incluindo este, que havia riscos [de roubo] e que quando esses navios estavam a sair da Crimeia, tratava-se de furto”, indicou o governante.
A península da Crimeia (sul) foi anexada pela Rússia em 2014.
O vice-ministro esclareceu que a Ucrânia não tinha contactos com a Síria, aliada de Moscovo. Outros países receberam cereais da Rússia que se acredita terem sido roubados da Ucrânia.
“Fomos informados de que o Egito havia recebido cereais [da Ucrânia], mas o país rejeitou” a oferta, afirmou Taras Vysotsky.