Livros escolares gratuitos. E se cada família tivesse um cheque?
03-07-2017 - 09:11

A ideia partiu de um grupo de livreiros tradicionais que, com a introdução da gratuitidade dos manuais, temem pelo futuro do negócio.

Um grupo de pequenos livreiros escreveu ao Governo, ao Presidente da República, ao presidente da Assembleia da República e aos diferentes partidos políticos a propor a entrega de uma espécie de cheque-livro para os pais, em vez de serem as escolas a entregar os manuais aos alunos.

Os signatários da carta defendem que devem ser os pais a escolher a livraria onde vão comprar os livros.

“Porque se for um concurso nacional, vai parar a um grande ‘player’, como se diz agora; se for um concurso municipal, irá parar a uma única livraria. Se for por voucher, seria, creio, mais democrático e mais prático para o pai, que se deslocaria à livraria mais perto da sua morada e escusava de andar de um lado para o outro, no período de férias, a saber se há o livro ou não. E espalhava o volume por todos”, sustenta António Melo, proprietário da livraria Fonte Nova, em Famalicão.

Evitava-se assim os actuais concursos ou ajustes directos que, segundo dizem estes livreiros, favorecem as grandes superfícies.

“O Governo tem de tomar medidas para que estas livrarias se mantenham, até por causa dos outros livros, que não são os escolares”, afirma à Renascença, acrescentando que os manuais escolares têm um peso assinalável no negócio: “entre 70% e 80%”.

Só entre as 10 livrarias de Famalicão que subscreveram a carta, cinco “disseram que se as coisas não mudassem fechavam porta entre este e o próximo ano, portanto, já não fariam a próxima época escolar”, revela António Melo.

A preocupação é repetida em Aveiro.

“Supermercados a venderem livros com 18% de desconto? Eu pergunto às editoras: como? Eu digo que eles lhes dão mais do que a nós, mas eles juram que não”, diz José Augusto, proprietário da livraria Saturno, em Oliveira do Bairro.

O livreiro já foi consultado por agrupamentos para apresentar a sua melhor proposta, mas recusa entrar num leilão onde ninguém ganha.

“Quando alguém dá, 12%, 13%, 14% de desconto a um agrupamento, o que é que está a fazer? Está a cavar a sua sepultura”, defende.

Este pequeno comerciante a dualidade de critérios dos agrupamentos escolares e espera que o Governo coloque rapidamente um ponto de ordem.