O cardeal Tolentino de Mendonça alertou hoje, em Fátima, que não basta garantir o pão, é necessário um “relançamento espiritual” da sociedade e apela aos jovens que “tenham sonhos” em vez de medo.
“Sem dúvida que é urgente garantir o pão e esse trabalho exigente – fundamentalmente de reconstrução económica - deve unir e mobilizar as nossas sociedades”, considerou o cardeal na homilia da peregrinação de maio ao santuário.
“Mas as nossas sociedades precisam também de um relançamento espiritual”, pois “sem o pão não vivemos, mas não vivemos só de pão.”
E lembrou que “os maiores momentos de crise foram superados infundindo uma alma nova, propondo caminhos de transformação interior e de reconstrução espiritual da nossa vida comum”.
Para o cardeal, “o verdadeiro desconfinamento é aquele que o amor opera em nós” e “o amor é o mais verdadeiro, o mais profético, o mais necessário desconfinamento”.
É preciso que nos tornemos melhores
Na homilia da peregrinação de maio, Tolentino de Mendonça frisou também que “a experiência da pandemia e a crise poliédrica e global que ela instaurou representam igualmente para a contemporaneidade um imenso desafio a renascer”.
Considerando que “não basta voltarmos exatamente ao que éramos antes”, mas “é preciso que nos tornemos melhores”, o cardeal defendeu a necessidade de “um suplemento de alma.” “É preciso que desconfinemos o nosso coração”, acrescentou.
Para o cardeal Tolentino de Mendonça, “este é chamado a ser também um momento de revisão crítica do caminho que realizámos até aqui, de fazer uma espécie de balanço interior que avalie os nossos estilos de vida, os modelos de desenvolvimento e a natureza das opções que nos têm conduzido”.
Ainda “estamos a tempo de transformar a crise em oportunidade e a calamidade em esperança”, apelou o responsável pela Biblioteca do Vaticano.
É que “a experiência da pandemia não nos deu apenas uma consciência mais lúcida da nossa fraqueza”, mas “tem deixado a claro aquelas que são as nossas maiores forças”.
“Não tenhamos dúvidas”, exortou Tolentino de Mendonça: “a reconstrução pós-pandemia depende do modo como encararmos a fraternidade”.
Nesta homilia, o cardeal Tolentino de Mendonça deixou ainda um apelo aos jovens, especialmente aos jovens portugueses que se preparam para acolher em 2023 a Jornada Mundial da Juventude: “em vez de ter medo, tenham sonhos, descubram que Deus é aliado dos vossos sonhos mais belos, ousem sonhar um mundo melhor, sintam que o futuro depende da qualidade e da consistência dos vossos sonhos”.
Isto porque o mundo “precisa de novas visões, de outras gramáticas, precisa que arrisquemos ter sonhos”, justificou o cardeal.
Fátima: um laboratório sem portas nem muros
A terminar a homilia, Tolentino de Mendonça dirigiu-se aos peregrinos, aqueles que chegam “sempre de mãos vazias”, mas que, de Fátima, levam sempre “um sonho”, pois “Fátima ensina como se ilumina um mundo que está às escuras”.
É um “laboratório sem portas nem muros, sempre aberto para a esperança”, acrescentou o cardeal.
O santuário de Fátima voltou a ter peregrinos nesta peregrinação de maio, com um limite de 7.500 pessoas e com regras especiais de segurança sanitária por causa da pandemia de Covid-19.
O limite de 7.500 pessoas estipulado para as celebrações da peregrinação internacional de maio ao Santuário de Fátima, que hoje termina, foi atingindo pelas 8h:50.
A lotação foi alcançada poucos minutos antes do início das celebrações, que começaram às 9h00 com a recitação do terço. Seguiu-se a missa, que incluiu uma palavra dirigida aos doentes, e a procissão do adeus.
Na quarta-feira, a lotação máxima de 7.500 pessoas foi atingida às 20h25, cerca de uma hora antes do início da peregrinação aniversária de maio no Santuário de Fátima.