Ann Curry, uma das mais galardoadas jornalistas norte-americanas, veio à Web Summit esta quarta-feira para falar do que melhor sabe: sobreviver à profissão em cenário de guerra.
Nas inúmeras experiências que teve em conflitos armados e desastres humanitários em sítios como Iraque, Haiti, Darfur, Síria ou Kosovo, Curry desenhou as suas "regras da estrada", que lhe permitem manter-se a salvo e resguardar a sua equipa de perigo iminente. Partilhou-as sem pejos com uma plateia cheia no palco Fourth Estate, dedicado ao jornalismo.
"Estás sempre a salvo...até não estares. Não podes prever tudo", começa por dizer. No terreno, o foco tem de estar na maior prioridade de qualquer repórter de guerra: entrar e sair dos espaços mais perigosos de forma segura. "Essa é a nossa maior prioridade, não é a estória". No caso dos jornalistas que seguem com equipas de reportagem, "os instintos de todos os elementos contam" e comunicar é fundamental para garantir que os "blindspots" (ângulos mortos) de cada um são eliminados pelos restantes.
"É preciso encontrarem-se todos antes, discutir o objetivo do trabalho", diz a repórter, reforçando a ideia de que, mais do que tudo o resto, é preciso ter um objetivo bem definido. "Tens de saber o que queres, entrar e sair... não percas tempo".
O instinto é o melhor aliado em zonas de conflito armado ou desastres. "É preciso estar sempre atento", garante Ann Curry. Isso pode significar pedir ajuda "até mesmo à concorrência". "Não hesites em falar com toda a gente", reitera.
O trabalho, no entanto, não termina quando se abandona a incerteza. O trauma segue o jornalista para casa e é preciso "processar a experiência muito depois do perigo ter passado".
"O que aprendi em todos os sítios onde estive é que tens de voltar e lidar contigo. Física, mental e emocionalmente. É preciso lidar com o stress pós-traumático", reforça. Ajuda "perceber o porquê de fazer isto". "Lembra-te do teu propósito", sublinhou a jornalista na Web Summit, que decorre no Parque das Nações, em Lisboa.
"Só assim consegues ser bom o suficiente na próxima estória", remata.