O deputado e ex-secretário-geral adjunto do PSD Hugo Carneiro afirmou esta quarta-feira que sempre defendeu “o interesse público” e o rigor das contas, sem responder diretamente às suspeitas de que funcionários do partido teriam sido pagos via Parlamento.
Em declarações aos jornalistas no Parlamento, Hugo Carneiro – que tinha o pelouro financeiro na anterior direção liderada por Rui Rio – confirmou que foi alvo de buscas domiciliárias, quer na residência de Lisboa, quer na do Porto, e que teve o seu telemóvel apreendido, assegurando colaboração total com a investigação, tendo já facultado ‘passwords’ de computadores e ‘pins’ de telemóveis.
“A minha atuação sempre foi pautada pela defesa do interesse público, julgo que é reconhecido que sempre tivemos a preocupação no PSD, quando tinha estas funções, de transmitir o máximo rigor nas contas e situação financeira do PSD”, assegurou o vice-presidente da bancada social-democrata.
Do auto de busca, disse, constam referências a eventuais crimes de peculato, abuso de poder e prática de crimes por titulares de cargos políticos.
O deputado salientou que o processo nasceu de “denúncias anónimas feitas ao Ministério Público” por colaboradores do partido, disse não ter tido para já indícios de que será constituído arguido – para tal será necessário o levantamento da imunidade parlamentar - e assegurou não ter falado com o ex-presidente do PSD, Rui Rio, também alvo de buscas no mesmo processo.
Questionado diretamente se tinha conhecimento de que haveria funcionários do partido pagos com verbas do grupo parlamentar, como noticiou a CNN (que acompanhou as buscas), Hugo Carneiro disse já ter transmitido à comunicação social o que queria dizer por hoje.
“Há muitas coisas que constarão do processo que desconheço, a seu tempo irá desenvolver-se e o que me for questionado, não deixarei de responder”, afirmou, dizendo estar sereno perante esta investigação, uma vez que sempre “defendeu o interesse público”.
Hugo Carneiro disse respeitar o trabalho do Ministério Público e da Polícia Judiciária, “que estão a fazer o seu papel”.
“Devo pedir que o processo deva avançar o mais depressa que puderem e contarão com a minha colaboração”, apelou.
O deputado admitiu que “já esperava há muito tempo” que pudesse ser chamado a dar esclarecimentos, uma vez que “praticamente todos os colaboradores quer do grupo parlamentar, quer do PSD há muitos meses atrás já foram chamados ao Ministério Público e à Polícia Judiciária”, num processo que foi noticiado em 2020 pela revista sábado e que partiu de denúncias de funcionários do PSD.
Sobre uma eventual constituição como arguido, e apesar de tal não lhe ter sido hoje comunicado, Hugo Carneiro recordou que tal implica um pedido de levantamento de imunidade parlamentar.
“Obviamente estou cá para prestar contas sobre o que fiz e fazer a defesa do interesse público que sempre pautou a minha atuação”, afirmou.
PSD promete "toda a colaboração"
O deputado fez questão de dizer que não tinha falado com o ex-líder do PSD Rui Rio, mas disse ter a certeza que ambos estarão disponíveis para colaborar com o Ministério Público e com a Polícia Judiciária.
Também hoje, em comunicado, o PSD assegurou hoje que “prestará toda a colaboração” com a justiça, informando que, segundo as autoridades, a investigação abrange o período de 2018 a 2021
Rui Rio foi presidente do PSD entre fevereiro de 2018 e julho de 2022, tendo acumulado com a presidência do grupo parlamentar entre novembro de 2019 e setembro de 2020.
A Polícia Judiciária (PJ) mobilizou hoje cerca de 100 inspetores e peritos para buscas na casa do ex-presidente do PSD Rui Rio e na sede nacional do partido, por suspeitas dos crimes de peculato e abuso de poderes.
Segundo o comunicado da PJ, foram realizadas 20 buscas, das quais 14 domiciliárias, cinco a instalações do partido e uma a instalações de um revisor oficial de contas, dispersas pela zona da Grande Lisboa e na região norte do país.
A informação sobre esta operação da Judiciária avançada pela CNN, que avançou que as buscas visavam um alegado uso indevido de dinheiros públicos, através de verbas da Assembleia da República definidas para a assessoria dos grupos parlamentares e que seriam utilizadas para pagar funcionários do partido que não trabalhariam no Parlamento.