Nas últimas semanas, tem-se falado muito do comendador Joe Berardo, por causa de uma ação interposta contra ele por três bancos. O BCP, a CGD e o Novo Banco recorrem agora a tribunal para tentarem ser pagos de empréstimos no valor global de 962 milhões de euros que concederam a Berardo (no caso do Novo Banco, foi o extinto BES). Não é realista que esses bancos recebam uma quantia significativa das verbas em dívida.
Nesse crédito malparado inclui-se o espantoso caso de a CGD ter emprestado dinheiro a Berardo para comprar ações do BCP, dando o comendador como garantia essas mesmas ações. O que se enquadrava no assalto a este banco por parte de gente próxima do poder político da altura (Sócrates). Dois administradores, Carlos Santos Ferreira e Armando Vara, transitaram diretamente da CGD para o BCP. Foi, porventura, o maior escândalo da história da banca portuguesa e das suas ligações promíscuas ao poder político.
Berardo é um “self made man”, que enriqueceu na África do Sul e, depois em Portugal, tem manifestado um enorme desprezo pelas leis do país e pela ética dos negócios. Recorde-se o caso das obras que fez em casa, contestadas pelos outros condóminos do prédio, ou do muito favorável (para ele) esquema para albergar no Centro Cultural de Belém a sua coleção de pintura.
Figura pitoresca, típico “Chico esperto”, homem com grande “lata” (o que atrai os media), Joe Berardo é, no entanto, um personagem menor nestas trapalhadas. Mais preocupante é o conjunto de políticos e gestores que, de uma maneira ou de outra, promoveram ou permitiram as suas “habilidades”. Desses fala-se menos.