Uma das fragilidades que geralmente são apontadas à economia portuguesa é o excessivo volume de crédito malparado na banca, isto é, empréstimos que têm ínfimas ou nenhumas possibilidades de virem a ser pagos. Na sua maioria, esses créditos implicam perdas de 100% para os bancos, mas em alguns casos, sobretudo nos créditos a particulares, os bancos por vezes conseguem vendê-los, porém a valores baixíssimos – apenas 8% do valor nominal do empréstimo, por exemplo. E nem sempre os bancos estão abertos a reconhecer essas perdas nos seus balanços.
A média da banca europeia no malparado é inferior a 5% do crédito total; ora os bancos portugueses registaram, no ano passado, 13,3% de crédito malparado. É uma melhoria relativamente a 2016, quando atingira quase 18% no primeiro trimestre, mas é preciso reduzir ainda mais o crédito malparado em Portugal.
No início da legislatura, o governo de A. Costa desdobrou-se em anúncios de que, em breve, iria resolver o problema do malparado. A certa altura até se falou muito de um “banco de fomento” (Instituição Financeira de Desenvolvimento é o nome oficial), sediado no Porto, e que teria como missão principal combater o malparado, nomeadamente o respeitante a pequenas e médias empresas.
Como era de prever, não surgiu qualquer solução mágica para o problema e temos que nos resignar a uma lenta diminuição do malparado. Importa é que essa tendência se mantenha, se possível com mais intensidade.
A quase bancarrota e o programa de “troika” que se lhe seguiu fez subir o malparado, compreensivelmente. Mas antes da crise já ele era excessivo. Por exemplo, o crédito malparado de particulares atingia 13,2% em 2009 e 13,7% em 2010 (no ano passado situou-se em 11,8%). O que indicia uma crónica imprudência dos gestores bancários na concessão de crédito. A culpa não é só das famílias e das empresas que contraíram empréstimos com alguma irresponsabilidade e depois não os conseguiram pagar.
Há dias foi divulgado que, em maio, se registou uma grande subida do endividamento privado, empresas e particulares (crédito à habitação e ao consumo). Daí que o Banco de Portugal tenha vindo a impor critérios mais restritivos na concessão de crédito, sobretudo nos empréstimos para habitação e para consumo.
Naturalmente que o volume do malparado teve e tem efeitos negativos na concessão de crédito novo, especialmente o crédito para investimento empresarial. E o futuro da nossa economia depende largamente do investimento que as empresas fizerem - desde logo, da qualidade desse investimento. O que desaconselha colocar quase todas as esperanças nos fundos de Bruxelas, que são importantes numa economia descapitalizada como a nossa, mas – como “crédito fácil” que são - nem sempre financiam projetos realmente produtivos, que levem a gerar lucros, pois aí prevalece, com certa frequência, a ideia de aproveitar o dinheiro disponível, sem curar muito de avaliar a qualidade do projeto.