Ataques em Cabo Delgado. Há pelo menos 60 mil pessoas em fuga
29-03-2021 - 10:05
 • Maria João Costa

Membro da HELPO, uma das organizações não-governamentais no terreno, fala em situação "extremamente preocupante".

Em Moçambique, não param de chegar a Pemba pessoas em fuga da região de Cabo Delgado, devido aos ataques armados. Muitas são crianças totalmente despojadas de bens e de documentos.

Foi montada uma ponte aérea para Maputo para retirar quase 1.300 pessoas. Em declarações à Renascença, Carlos Almeida, da HELPO, uma das organizações não-governamentais no terreno, fala do drama dos refugiados.

"Neste momento, os números oficiais falam em 669 mil [refugiados]. Acreditamos que esse número já tenha engrossado e as estatísticas referem que metade são crianças. É uma situação extremamente preocupante, porque estas pessoas estão praticamente todas a fugir em resposta aos ataques, o que significa que estão a fugir sem nada, sem absolutamente nada. Muitas das vezes nem documentos conseguem trazer. Isto, efetivamente, é um drama muito forte", comenta.

Milhares em fuga


Estima-se que haja 60 mil pessoas em fuga nesta altura em Pemba, onde chegou, no domingo, mais um navio vindo do distrito de Palma, confirma Carlos Almeida à Renascença.

"Neste momento, também se sabe que o ACNUR, o ato comissariado das Nações Unidas para os refugiados, está em Pemba para receber uma grande vaga de deslocados. Importa referir que, na vila de Palma, estimava-se que neste momento estariam cerca de 60 mil pessoas, o que irá certamente engrossar muito este forte drama humanitário que está a acontecer no norte de Moçambique", relata.

Os ataques armados, confirma o governo moçambicano, fizeram nos últimos dias dezenas de mortos civis. Entre eles estão sete pessoas que tentavam fugir do principal hotel de Palma, que foram mortas na quarta-feira. Há noticia de um português ferido.

Pelo menos, 2.614 pessoas perderam a vida e a situação piorou bastante nos últimos 12 meses, com a escalada de ataques a aldeias.

Além da guerra, que dura desde 2017, Cabo Delgado foi alvo de vários ciclones e inundações, que têm degradado ainda mais as condições da população.

Os ataques armados, alguns foram reivindicados pelo grupo jihadista Estado Islâmico desde há ano e meio, mas não há certezas sobre quem está por detrás da violência organizada que tem sido combatida pelas Forças Armadas e de Defesa de Moçambique (FADM).

Cabo Delgado é uma região rica em pedras preciosas, madeiras e local onde avança o maior investimento privado de África para extração de gás natural a partir de 2024.

Diversos relatórios internacionais indicam que a costa da província também faz parte de uma das rotas de tráfico de droga, sobretudo heroína.