O fenómeno das "fake news" ou manipulação ganhou relevo com as eleições nos EUA em 2016 e com a alegada influência da Rússia na vitória de Donald Trump ou ainda no referendo ao Brexit, no mesmo ano.
O Parlamento Europeu quer tentar travar estes fenómenos nas eleições europeias de 2019 e, em 25 de outubro deste ano, aprovou uma resolução na qual defende medidas para reforçar a proteção dos dados pessoais nas redes sociais e combater a manipulação das eleições, após o escândalo do abuso de dados pessoais de milhões de cidadãos europeus.
Mas do que falamos quando falamos de "fake news"? Um explicador para compreender o fenómeno do momento.
O que são "fake news"?
Na tradução literal do inglês significa "notícias falsas", embora esta definição, para os jornalistas, seja uma contradição: se for mentira ou falsificada (outro significado de "fake"), não é notícia. Em alternativa, pode também dizer-se "informações falsificadas", conceito que remete para a manipulação de informação.
Os franceses, por exemplo, optaram pelo termo "infox" (amálgama de informação e intoxicação), lê-se numa entrada do Ciberdúvidas, 'site' gerido pelo jornalista José Mário Costa, que serve de consultório e de espaço de debate e esclarecimento sobre a Língua Portuguesa.
Qual a diferença entre "fake news" e notícias erradas?
As notícias erradas são resultado de um erro ou de uma inexatidão não intencional da parte de dado jornalista, ao passo que as "fake news" são informações falsificadas com fins políticos, económicos ou outros.
Como se propagam?
Sobretudo através das redes sociais, Twitter, Facebook ou por aplicações mais fechadas como o WhatsApp. Há 'sites' dedicados a noticias falsas, sediados em países europeus mas com IPs (endereços de protocolo da internet) registados no Texas, por exemplo, de onde partiram centenas de notícias manipuladas. Nalguns casos, esses 'sites' têm uma aparência e siglas idênticas aos dos 'media' reais, o que aumenta a confusão entre os consumidores de notícias.
Como se conseguem identificar as "fake news"?
O Facebook tem uma espécie de guia, em 10 passos, que ajuda a identificar notícias falsas durante períodos eleitorais. Os conselhos passam por desconfiar de manchetes muito apelativas, verificar a fonte da "notícia" ou procurar reportagens sobre o mesmo tema para comparar informações. Culmina com o apelo ao leitor para pensar "de forma crítica" o que lê, quer em 'sites' quer nas redes sociais.
Há vários 'sites' que se dedicam a verificar a informação, entre eles www.bellingcat.com, www.crowdtangle.com ou www.factcheck.org, para a política americana, ou ainda a agência Lupa https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/), no Brasil. Em Portugal, na semana passada, durante o Web Summit, foi lançado um "site" português para o mesmo efeito, o Polígrafo (https://poligrafo.sapo.pt/).
O que está a ser feito para combater o fenómeno?
Na sequência da escândalo da Cambridge Analytica, que utilizou uma aplicação para recolher dados de milhares de utilizadores do Facebook, o Reino Unido multou a empresa fundada por Mark Zuckerberg em 500 mil libras (560 mil euros), trazendo o problema da manipulação para a agenda política e mediática.
Na Europa, foram anunciadas, nos últimos meses, uma série de iniciativas de combate às "fake news". Em 25 de outubro, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução em que apela aos Estados-membros da União Europeia (UE) para que "adaptem as regras eleitorais às campanhas online, como as regras relativas à transparência sobre o financiamento, os períodos de reflexão, o papel dos meios de comunicação social e a desinformação".
A Comissão Europeia também dinamizou um código de boas práticas que está em vigor desde outubro e que prevê um acordo com várias plataformas eletrónicas.
Em Portugal, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) está a preparar iniciativas-piloto em parceria com o Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) para tentar minimizar o fenómeno das "fake news" nas eleições europeias e legislativas de 2019, em Portugal. O Parlamento está também empenhado em lançar um debate sobre o tema.