O Vaticano publicou esta quinta-feira um comunicado em resposta às reações e polémicas levantadas pela Declaração “Fiducia Supplicans” sobre bênçãos a casais em situação irregular ou entre homossexuais (leia aqui o comunicado).
Nesta nota de imprensa, assinada pelo Prefeito e pelo secretário do Dicastério para a Doutrina da Fé, sublinha-se que a doutrina do matrimónio não muda, que os bispos podem discernir a sua aplicação, “segundo os contextos locais” e que as bênçãos pastorais não se podem equiparar às liturgias nem às rituais.
Face às reações de diversas conferências episcopais, o Comunicado reconhece a necessidade de haver “um período mais longo de reflexão pastoral”, mas rejeita que a referida Declaração seja “herética, contrária à tradição da Igreja ou blasfema”.
Cada bispo deve discernir mas não rejeitar
Para a receção prática da Declaração “Fiducia Supplicans”, o cardeal Vítor Fernandez, apela “ao devido respeito por um texto assinado e aprovado pelo próprio Sumo Pontífice, procurando acolher a reflexão nele contida”. Apesar de reconhecer que cada bispo tem sempre o poder de discernimento in loco, podem admitir-se diversas modalidades de aplicação, mas não “uma negação total ou definitiva deste caminho que é proposto aos sacerdotes”.
Nos países onde a homossexualidade é considerada crime e até causa de condenação à tortura e à morte, a questão das bênçãos deve ser substituída por uma estratégia pastoral a longo prazo, de grande amplitude e sem pressa, baseada nos ensinamentos da Doutrina social da Igreja. As Conferências episcopais desses países não devem sustentar “uma doutrina diferente daquela da Declaração aprovada pelo Papa” mas sim propor "a necessidade do estudo e do discernimento para agir com prudência pastoral”.
Como realizar as “novas bênçãos”
O Comunicado hoje divulgado apresenta sugestões concretas para a realização destas bênçãos. Explica que se trata de “uma compreensão mais ampla” para se “realizar um gesto de proximidade”, que vai ao encontro da “avaliação positiva da ‘pastoral popular’ que aparece em muitos textos do Santo Padre”, com vista a promover “a abertura a Deus, no meios das mais diversas circunstâncias”.
Sobre a modalidade para se proceder a este tipo de bênção, o texto do Cardeal Fernandez dá exemplos e até inclui a sugestão de uma fórmula de oração. Por fim, propõe-se “uma boa catequese”, para ajudar o povo de Deus “a descobrir que este tipo de bênção é um simples canal pastoral que ajuda as pessoas a manifestar a própria fé, ainda que sejam grandes pecadores” e também “para nos livrar do medo que de as nossas bênçãos exprimam algo de inadequado”.