A rotina profissional, familiar e social está cada vez mais constrangida. Deixamos de ter horas suficientes no dia para fazer tudo o que queremos e precisamos e, portanto, passamos a ocupar também parte da noite com os nossos afazeres.
“Os portugueses dormem menos e dormem pior”, começa por dizer à Renascença a presidente da ASP, dra. Daniela Sá Ferreira. O recomendado é que se durma entre 7 e 9 horas, mas cada vez nos deitamos mais tarde e levantamos mais cedo, devido a um estilo de vida muito preenchido entre rotinas e horários apertados.
Todos nos apercebemos já desta nova realidade, no entanto, o que muitas vezes ignoramos são os efeitos da má qualidade do sono na nossa saúde.
“A privação crónica do sono, o facto de dormirmos cada vez menos tem riscos graves para a saúde e esses riscos estão bem descritos”, alerta Daniela Sá Ferreira.
"O aumento da patologia cardiovascular, aparecimento da diabetes, influência na obesidade e até relacionamento a problemas cognitivos, como o aumento de demências, depressões e ansiedades” são alguns dos riscos do pouco e mal dormir, destaca a especialista, a marcar o Dia Mundial do Sono, que se celebra esta sexta-feira.
As doenças associadas à qualidade do sono são muitas e estão bem documentadas, diz a presidente da associação, e todas as pessoas afetadas “têm mais risco de ter doenças, de ter mais morbilidades decorrentes dessas doenças, mais visitas hospitalares, mais baixas médicas, e ao fazermos esta associação, falamos, realmente, numa morte mais precoce, exatamente por causa do sono.”
O que a médica lamenta é a pouca relevância que se atribui ao sono na qualidade vida no que classifica como "os três pilares" fundamentais para uma vida saudável.
“Toda a gente ouve falar na alimentação saudável, da importância da alimentação saudável, da importância do exercício, mas esquecem-se de um outro pilar fundamental que é o sono. E se calhar este pilar interfere com os outros.”
De acordo com a Healthier Sleep Magazine, estão classificadas cerca de 100 perturbações do sono, mas as mais comuns são a insónia e a apneia do sono. As hipersónias, as parassónias, as perturbações do ritmo circadiano e os distúrbios do movimento completam a lista de categorias em que os distúrbios se enquadram.
Mas o que aconselham os especialistas do sono caso suspeite de sofrer de algum distúrbio do sono? Primeiro, vale a pena começar por fazer um registo diário das horas a que se deita e que acorda, e do número de vezes que acorda durante a noite.
Depois disso, o melhor é agendar uma consulta de especialidade. O médico pode aconselhar que se faça uma polissonografia, que é um estudo do sono realizado em instalações próprias e em que são aplicados uns elétrodos ao paciente que depois dorme monitorizado.
Apesar de os riscos da má qualidade do sono puderem surgir em todas as idades, é nos adultos que se está mais propenso a desenvolver as doenças associadas, e é precisamente nessa faixa etária que se dorme pior, por conta de se considerar que “o sono acaba por ser, às vezes, um obstáculo para essas atividades todas” que fazem o quotidiano.
Este dia é precisamente para sensibilizar para a importância do sono, não só a população, mas também até mesmo a comunidade médica, diz Daniela Sá Ferreira. “Dormir é essencial para a saúde” é o tema da campanha deste ano.