O antigo secretário de Estado das Finanças António Nogueira Leite acredita que as taxas diretoras do BCE vão aumentar ainda durante os próximos meses. O ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos admite que, depois desse movimento, as taxas vão estabilizar em valores próximos dos atuais.
“Se aquilo que são as informações deste fim de semana, por exemplo, sobre as perspetivas de redução abrupta da inflação, a subjacente e da inflação na Alemanha, se vierem a concretizar e noutros países europeus eu admito que isto seja um processo que dure mais alguns meses, tenha mais uma ou duas ou três etapas, mas, entretanto, não terá mais subidas. O que nós temos neste momento são taxas de juro normais”, destaca.
Nogueira Leite espera ainda a repetição de fortes lucros na banca portuguesa, em 2023, explicando que “aumentando as taxas diretoras, os indexantes sobem, o que significa, numa primeira análise, que se não houver efeitos de segunda ordem, os bancos ganham mais dinheiro”.
E ganham mais dinheiro - diz o antigo secretário das Finanças - “porque a margem financeira tende a aumentar significativamente”, realçando que “já vimos parte disso o ano passado com os bancos portugueses, e não só, a ter lucros recorde”.
“Eu esperaria que, não havendo nenhum evento negativo que afete a generalidade do sistema, não apenas em Portugal, mas por essa razão também em Portugal, eu esperaria se isso não acontecer, resultados verdadeiramente muito significativos este ano”, adianta.
Já o economista da Universidade do Porto Álvaro Aguiar admite que a banca vai diminuir a concessão de crédito, mas tem o malparado controlado.
“Poderá haver algum aumento de incumprimento, mas isso agora há muito mais margem para isso. E é possível gerir muito melhor, há mais diversificação dos empréstimos”, entende, alertando, no entanto, que “uma recessão na economia e incerteza relativamente ao futuro vai fazer reduzir o crédito, isso sim, vamos ter alguma redução ou desacelerar do crédito à economia”.
Para este economista que trabalhou no gabinete de Teixeira dos Santos no Governo Sócrates, os apoios do Governo para fazer face à subida da inflação devem limitar-se aos mais carenciados.
“Temos que ter apoios necessariamente. E principalmente nos países em que a incidência, digamos assim, da inflação sobre as famílias mais pobres, ou pelo menos as famílias menos ricas, eu diria, é grande, temos que ter apoios específicos a determinadas facões da população, sendo que obviamente têm alguns efeitos sobre a procura agregada, mas não um efeito generalizado, aí também é preciso equilíbrio”, defende Álvaro Aguiar.
É tudo o que não acontece com a medida do IVA ZERO, no entender de António Nogueira Leite.
O ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos diz que “todos os apoios devem ser canalizados para eles [mais carenciados] e não devemos avançar, como já o fizemos, em políticas generalizadas, por exemplo, a política do IVA ZERO”.
“Para além das questões de mensuração do impacto ser efetivamente repercutido sobre os consumidores, que é uma toda uma outra questão, são generalizadas, afetam tanto quem não precisa de ajuda, como quem precisa de ajuda”, explica.
Nogueira Leite entende que “é fundamental nesta altura, exatamente para não estimular em exagero a procura, mas porque temos de facto que cuidar daqueles que ficam mais maltratados pelo processo inflacionista, concentrar todo o apoio nas famílias mais baixos rendimentos”.
Declarações ao programa Da Capa à Contracapa, que vai para o ar mais logo depois das 23h00, e que debate a solidez da banca e o comportamento do BCE face à inflação.