Bernie Sanders venceu esta terça-feira as primárias na Virgínia Ocidental, batendo Hillary Clinton por cerca de 15 pontos percentuais. Foi uma vitória expressiva num estado em que Hillary tinha batido Barack Obama há oito anos por 40 pontos de diferença, o que então lhe permitiu acalentar ainda a esperança de vencer o seu rival na corrida democrática à Casa Branca.
Talvez por isso, a Virgínia Ocidental era vista à partida como um estado onde Hillary poderia triunfar sobre Sanders, mas não foi isso que sucedeu. Dois motivos principais concorreram para este desfecho: a questão da raça e a crise económica.
Com uma população esmagadoramente branca, a Virgínia Ocidental votou contra Obama em 2008 em boa parte como forma de rejeitar um negro na Casa Branca. Quase 60% dos eleitores, onde se incluem milhares de operários, disse em sondagens que a questão da raça desempenhava um papel importante na sua opção de voto.
Hillary não teve por isso dificuldades em bater Obama numa altura em que o então senador do Illinois atraía multidões por todo o país e parecia já imparável para garantir a nomeação do Partido Democrático à Casa Branca. Desta vez, seguindo o padrão destas primárias, Sanders capitalizou o voto branco entre os democratas com facilidade.
Quanto à economia, a Virgínia Ocidental é um estado ainda em recessão porque tem um tecido assente em sectores tradicionais como a metalurgia e a exploração mineira. O carvão, em particular, continua a ser um esteio importante no emprego do estado, ocupando mais de 30% dos eleitores democratas. Estes favoreceram Sanders nas urnas, o que não surpreende visto que o senador tem defendido medidas proteccionistas para evitar a ruína das indústrias tradicionais.
19ª vitória dá novo fôlego
Já Hillary Clinton fez, durante esta campanha, uma afirmação que lhe custou seguramente muitos votos, ao defender que a indústria do carvão devia ser “corrida dos negócios”. Feita num contexto de defesa das energias renováveis e de combate às fontes mais poluentes, a asserção acabou por lhe ser fatal, apesar de ter pedido desculpa por ela.
A vitória de Sanders – a 19ª nestas primárias – tem, contudo, muito pouca expressão para a contabilidade final dos delegados democratas. Estavam em jogo 29 lugares na convenção e o senador do Vermont deverá ter garantido apenas mais cinco do que Clinton.
Embora irrelevante, dada a grande vantagem de Hillary na corrida, a Virgínia Ocidental deu contudo mais fôlego a Sanders, que neste mês de Maio poderá arrecadar mais algumas vitórias em estados pouco importantes politicamente, como o Oregon e o Kentucky, que vão certamente galvanizar as suas hostes para o grande epílogo destas primárias a 7 de Junho.
Nesse dia, seis estados vão a votos, incluindo o “grande prémio” Califórnia, mas também os importantes Nova Jérsia e Novo México, além de Montana, Dakota do Norte e Dakota do Sul. Sanders reiterou esta terça-feira que irá até ao fim da corrida.
No campo republicano, houve também primárias nos estados da Virgínia Ocidental e do Nebraska, agora apenas com Donald Trump na corrida, depois da desistência de Ted Cruz e de John Kasich na semana passada. O próprio multimilionário aconselhou os eleitores republicanos a não irem às urnas declarando o processo concluído. Mesmo assim, alguns milhares de eleitores compareceram para lhe darem mais uma vitória.
A campanha de Trump não está agora focada necessariamente nos estados que ainda têm de cumprir a formalidade da votação, mas sim naqueles que considera decisivos para a eleição geral em Novembro. E na terça-feira recebeu boas notícias através de uma sondagem que o dá como batendo Clinton no Ohio por quatro pontos e apenas a um ponto de distância na Florida e na Pensilvânia, todos estados decisivos em Novembro. A amostra da sondagem, porém, segundo especialistas, teria pequenas distorções em relação ao eleitorado dos respectivos estados.
Até ao dia 8 de Novembro haverá seguramente muitos outros estudos de opinião que permitirão confirmar ou infirmar estes dados.