O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, disse esta quarta-feira que, com a crise de refugiados do Afeganistão, “volta a ser uma realidade” que a migração pode “destruir a identidade cultural da Europa” e acarretar riscos como o “terrorismo”.
“Fui o primeiro a opor-me definitivamente” à política de aceitação de refugiados em 2015", disse Orbán, durante o Fórum Estratégico de Bled, na Eslovénia, referindo-se à sua recusa em acolher migrantes que fugiam da guerra na Síria.
“Esta abordagem pode destruir a identidade cultural da Europa. Acredito que (em 2015) muitas pessoas perigosas chegaram à Europa e contribuíram com o terrorismo e muitas dificuldades sociais. Não estamos preparados para enfrentar esses novos desafios”, disse Orbán durante a conferência que esta quarta-feira e quinta-feira reúne líderes e especialistas europeus para debater o futuro da Europa.
“Com o Afeganistão, isso é uma realidade novamente”, disse Orbán.
O primeiro-ministro húngaro garantiu que para resolver “os desafios demográficos” da União Europeia (UE), com o envelhecimento da população, não são precisos “recém-chegados no lugar do próprio povo que vive aqui originalmente”.
“É uma abordagem matemática. Se convidarmos outros de fora da Europa, isso mudará a identidade cultural da Europa. Há países que aceitam. A Hungria não está entre esses países”, sublinhou.
Pelo contrário, defendeu que “a política familiar cristã tradicional pode ajudar diante desta crise demográfica”.
Orbán também disse que “as disputas sobre questões de migração na UE criaram muitas diferenças” e garantiu que agora não são “capazes de superar essa lacuna”.
O primeiro-ministro da Hungria refutou assim o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, que durante o seu discurso no mesmo fórum disse ter ficado “muito desapontado” com o facto de a UE não acolher refugiados afegãos.
“Fiquei muito desapontado com as conclusões do Conselho dos Assuntos Internos de ontem. Vimos países de fora da UE a disponibilizaram-se para acolher requerentes de asilo afegãos, mas não vimos um único Estado-membro a fazer o mesmo”, criticou esta quarta-feira o líder da assembleia europeia.
Discursando um dia depois da reunião extraordinária dos ministros do Interior da UE e antes dos encontros informais dos ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros na Eslovénia, David Sassoli acrescentou que “todos [os Estados-membros] pensaram corretamente naqueles que trabalharam com a União e nas suas famílias, mas nenhum teve a coragem de oferecer refúgio àqueles cujas vidas ainda hoje estão em perigo”.
“Não podemos fingir que a questão afegã não nos diz respeito porque participámos nessa missão e partilhámos os seus objetivos e metas”, vincou.
Para David Sassoli, “uma voz europeia forte e comum na cena internacional é agora mais necessária do que nunca e avançar para “uma verdadeira política de segurança e defesa comum”.
Os ministros do Interior da UE comprometeram-se na terça-feira a, após as “lições aprendidas” na crise migratória de 2015, prevenir “movimentos migratórios ilegais em larga escala e descontrolados” devido à situação no Afeganistão, prometendo ainda assim proteção aos civis na região e aos refugiados.
Os talibãs conquistaram Cabul em 15 de agosto, concluindo uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO, que se encontravam no país de 2001, na sequência do combate à Al-Qaeda após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.