Quando se colocou a hipótese de a Câmara dos Representantes de Washington desencadear um processo de destituição (“impeachment”) ao presidente Trump manifestei, aqui, dúvidas sobre o sucesso dessa iniciativa. Admiti, mesmo, que ela pudesse vir a beneficiar Trump, por estimular a mobilização dos apoiantes do presidente.
Entretanto, o processo avançou e fez vir a lume acusações muito graves a Trump. Em síntese, o presidente é acusado de ter condicionado uma ajuda financeira à Ucrânia à instauração, por este país, de uma investigação ao filho de Joe Biden (seu possível adversário nas eleições daqui a um ano).
Diplomatas prestigiados e outras figuras respeitadas confirmaram publicamente essa alegação, que corporiza uma utilização da política externa dos EUA em proveito próprio – desacreditar um adversário político. A última declaração, porventura a mais prejudicial para Trump, veio de um ex-embaixador na Ucrânia, que não é de carreira, mas obteve o posto por ter doado um milhão de dólares à campanha eleitoral de Trump.
Este milionário, Gordon Sondland, tinha inicialmente dito não se lembrar; mas agora, perante a Câmara dos Representantes, afirmou ter obedecido a um plano gizado pelo advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani, para levar o governo ucraniano a processar o filho de Joe Biden em troca de ajuda financeira dos EUA. Plano que era do conhecimento de várias pessoas, nomeadamente do chefe de gabinete da Casa Branca, Mick Mulvaney, e do secretário de Estado Mike Pompeo.
Numa democracia normal, pouco mais seria preciso para destituir um presidente que não respeita regras elementares do seu alto cargo. Mas nos EUA só haverá destituição presidencial se o Senado a votar por uma maioria de dois terços. O que implicaria, neste caso, que muitos senadores republicanos se juntassem à minoria do partido democrático no Senado para afastar Trump.
Só que, apesar de gravidade das acusações que pesam sobre o presidente, são raros os congressistas republicanos que ousam tomar uma posição contra ele. Quase todos receiam ser penalizados nas urnas se atacarem o presidente, o qual não hesitaria em os insultar com os piores impropérios. Por isso a probabilidade de Trump vir a ser destituído ainda é escassa.
Trump conseguiu dominar por completo o partido republicano, que hoje abandonou muitos dos seus princípios, trocando-os por meras táticas eleitoralistas. Esta degradação da política é um dos mais graves danos que Trump trouxe ao seu país.