Têm sido várias as ocasiões recentes em que o Papa se tem pronunciado sobre a eutanásia, nomeadamente quando surgem casos que ganham expressão mediática a nível global. O mais recente é o caso do bebé Alfie Evans, o menino britânico de 23 meses que acabou por morrer cinco dias após ter sido desligado das máquinas que o mantinham vivo.
Alfie Evans sofria de uma doença rara que não foi diagnosticada e para qual os médicos garantiram não existir cura. O caso tornou-se polémico porque os médicos defendiam o desligar das máquinas, mas os pais não concordaram e entraram numa batalha legal para transferir Alfie para uma unidade hospitalar em Itália que pretendia continuar a assistir o menino.
Francisco mencionou este caso várias vezes, uma delas em meados de abril, quando Alfie ainda estava ligado às máquinas. “Chamo, mais uma vez, a atenção para os casos de Vincent Lambert e do pequeno Alfie Evans. Gostaria de repetir e confirmar, com força, que o único dono da vida, do início ao fim natural é Deus”, disse, no final da audiência pública semanal que decorreu na Praça de São Pedro.
Antes, em novembro de 2017, o Papa já tinha abordado quer a questão da eutanásia, como da distanásia (o prolongamento obstinado da vida através de terapias exageradas). Numa mensagem escrita dirigida ao arcebispo Vincenzo Paglia, presidente da Academia Pontifícia para a Vida, a propósito do Encontro Regional Europeu da Associação Médica Mundial, o Papa recorda que a Igreja Católica considera lícito interromper ou recusar tratamentos médicos em certas circunstâncias e que estas decisões reconhecem “os limites da nossa mortalidade, quando se torna evidente que é fútil opor-se a ela”. No entanto, ressalva que, “do ponto de vista ético, é completamente diferente da eutanásia, que é sempre errada, na medida em que a intenção da eutanásia é causar a morte”.
Já no início de 2018, Francisco voltou a falar sobre o tema, desta vez num discurso dirigido à Congregação para a Doutrina da Fé. O Papa criticou a mentalidade que leva à aceitação da eutanásia, dizendo que numa sociedade onde o valor da vida não se mede pela sua dignidade inerente, tudo é possível. Francisco lamentou que o “processo de secularização” esteja a “absolutizar o conceito de autodeterminação e autonomia” levando vários países a defender a eutanásia “como afirmação ideológica da vontade de poder do homem sobre a sua vida”.
Mais recentemente, no passado dia 6 de maio, após a recitação da oração do “Regina Coeli”, na Praça de S. Pedro, no Vaticano, o bispo de Roma diz que é preciso “cuidar dos idosos, como um tesouro precioso e com amor, mesmo quando criam problemas económicos e dificuldades”. “É por isso que aos doentes, mesmo na fase terminal, devemos dar toda a assistência possível. É por isso que os nascituros são sempre acolhidos; enfim, é por isso que a vida é sempre tutelada e amada, desde a conceção ao seu fim natural. Isso é amor”, sublinha Francisco.
Apoio a iniciativas portuguesas em defesa da vida
Em Portugal, a discussão em torno do tema regressou à ordem do dia, a propósito das iniciativas legislativas de esquerda que pretendem debater e votar propostas no sentido de legalizar a eutanásia.
Em outubro de 2017, realizou-se uma caminhada pela vida em Aveiro, Lisboa e Porto, eventos aos quais o Papa se associou, enviando uma carta. No documento, o Papa manifesta o desejo de que “apareçam sempre mais homens e mulheres de boa vontade que abracem corajosamente a verdade e valor que cada ser humano tem para Deus, sustentando tal verdade com factos e razões científicas e morais num dramático apelo à razão, para se voltar ao respeito de cada vida humana”, da conceção à morte natural, “na batalha contra o aborto, eutanásia e demais atentados à vida humana”.
Depois, dias mais tarde, realizou-se nova caminhada em defesa da vida, desta vez com destino ao Parlamento. A abrir o desfile, um dos organizadores leu a carta enviada pelo Papa Francisco, na qual este saudava os participantes, enviando a sua bênção apostólica e considerando que se deve "voltar ao respeito da vida". Francisco, na mesma carta, escreveu que esta marcha deve ser vista como uma manifestação "contra a cultura do descarte, orientada por uma lógica económica".