O candidato à Presidência da República Paulo Morais afirma que "não teria qualquer problema" em viabilizar um governo de esquerda, desde que existisse um quadro governativo estável.
Em declarações à agência Lusa, a propósito do cenário político actual, nomeadamente da possibilidade de o secretário-geral do PS negociar soluções governativas com PCP e o Bloco de Esquerda, Paulo Morais diz estar "perplexo e preocupado" com a situação que se vive em Portugal, salientando que não teria problemas em viabilizar um governo de esquerda.
"Não teria problema nenhum, desde que houvesse um quadro estável. Nós, em Portugal, não estamos habituados a soluções com negociação parlamentar porque, infelizmente, temos uma tradição de submissão do parlamento ao Governo, mas nos termos constitucionais deve ser o Governo que se deve submeter ao parlamento", adianta o candidato presidencial e ex-vice-presidente da Câmara do Porto.
Para Paulo Morais, o Presidente da República deveria ter pedido a Passos Coelho que formasse Governo e, se este não conseguisse, pedir ao segundo e até ao terceiro líder dos partidos mais votados, se necessário.
"É assim que as coisas funcionam em todas as democracias modernas, nomeadamente no norte da Europa. Apesar de as eleições já terem acontecido há uma semana, temos a sensação de que os partidos ainda estão em campanha eleitoral e, no meu entender, isto não é admissível", salientou.
O exemplo do Norte da Europa
Paulo Morais diz que tem olhado com "perplexidade" para o cenário político que se vive em Portugal.
"Por um lado, o Presidente mandatou o dr. Passos Coelho para fazer negociações no sentido de tentar formar governo, uma solução governativa estável, mas o facto é que já passaram dez dias e ainda não apresentou qualquer solução. Por outro lado, assistimos a algo que suscita admiração: foi António Costa, a quem Cavaco nada pediu, que andou a fazer diligências no sentido de formar governo", sublinhou, acrescentando que esta é uma situação de algum desrespeito para com a função presidencial.
Na perspectiva do candidato presidencial, Cavaco Silva deveria ter-se reunido com todos os partidos com assento parlamentar no dia a seguir às eleições.
"Deveria de seguida ter solicitado a Passos Coelho para tentar uma solução governativa e, se em 48 horas este não conseguisse, deveria ter sido tentada uma solução com o segundo partido, e se também não se verificasse, tentar com o terceiro, que não viria mal ao mundo", afirmou.
Paulo Morais lembrou ainda que há países na Europa, como a Dinamarca e o Luxemburgo, cujo chefe do Governo é o líder do terceiro partido mais votado.