Dois importantes estados federados da Alemanha, a Baviera e o Hesse, vão este domingo a votos, numas eleições regionais que servirão para medir o pulso à tendência de subida da extrema-direita e de impopularidade do Governo de coligação de centro-esquerda.
As eleições são seguidas com particular atenção desde Berlim, dada a importância dos dois estados em causa, que, no seu conjunto, representam mais de um quarto da produção económica alemã e praticamente um quarto da população, e devido ao contexto de uma subida do populismo, que marcou a campanha eleitoral tanto na Baviera como no Hesse.
Embora os dois estados vizinhos no centro e sul da Alemanha sejam bastiões de longa data da União Democrata-Cristã (CDU) e da União Social-Cristã (CSU), partidos-gémeos conservadores de centro-direita -- a CSU existe somente na Baviera, enquanto a CDU está presente nos restantes 15 estados -, e ambos tenham vitórias anunciadas, a extrema-direita, mesmo sem a força que já exibe na Alemanha de leste, ditou o tom das campanhas eleitorais, marcadas por um discurso cada vez mais duro contra a imigração, e deverá aumentar a sua representação nos dois parlamentos regionais.
Num contexto de descontentamento generalizado com a coligação de centro-esquerda que governa o país -- perto de 80% dos alemães dizem-se descontentes com a resposta governamental às grandes questões como a política migratória, económica e climática -, e com as sondagens a apontarem para resultados muito pobres dos partidos que a compõem -- os socialistas do SPD, do chanceler Olaf Scholz, os Verdes e os liberais do Partido Democrático Liberal (FDP) -, as eleições na Baviera e no Hesse poderão fragilizar ainda mais o Governo, onde reina a desarmonia.
As atenções estarão também focadas no desempenho eleitoral daquele que é considerado o partido de extrema-direita de maior sucesso desde o partido nazi, o Alternativa para a Alemanha (AfD), que, à escala nacional, é atualmente a segunda força política nas intenções de voto (apenas atrás da CDU), e que, de acordo com as últimas sondagens, pode aspirar a ser o segundo partido tanto na Baviera como no Hesse.
Na Baviera, cuja capital é Munique, a CSU, atualmente liderada pelo ministro-presidente Markus Söder, governa há mais de 60 anos e continuará seguramente no poder, mas nas anteriores eleições, em 2018, obteve o pior resultado desde 1950, com 37,2% dos votos, o que a forçou a coligar-se com o partido populista Eleitores Livres (FW, na sigla em alemão, para 'Freie Wähler'), liderado por Hubert Aiwanger, suspeito de ser simpatizante nazi na sua juventude.
É quase certo que voltará a necessitar de um parceiro de coligação. De acordo com as últimas sondagens, a CSU vencerá de forma clara, mas poderá ter um resultado mais baixo do que há cinco anos, na ordem dos 36%, enquanto Verdes (15%), FW (15%) e AfD (14%) surgem a lutar pelo segundo posto, e o SPD é apenas quinto (9%).
No Hesse, estado onde se encontra o centro financeiro do país, Frankfurt, e que é governado desde 2013 pela CDU e pelos Verdes, as sondagens apontam para nova vitória clara dos conservadores da União Democrata-Cristã, com 31% (acima dos 27% de há cinco anos).
Também aqui há uma luta pelo segundo lugar, mas entre Verdes (17%), SPD (17%) e AfD (16%), sendo que o resultado antecipado para os socialistas é extremamente pobre e penalizador, atendendo a que o partido de Scholz apostou forte, ao apresentar como candidata à liderança do estado a atual ministra do Interior, Nancy Faeser -- principal alvo das críticas da direita e extrema-direita devido ao forte aumento do número de requerentes de asilo na Alemanha.
A primeira projeção dos resultados das duas eleições está prevista para as 18h de Berlim (17h em Lisboa).