“O maior inimigo da Igreja - o maior de todos - é o dinheiro”, diz o Papa numa entrevista transmitida pelo canal de televisão católico TV2000.
“Pensem como Jesus dá ao dinheiro o estatuto de senhor e de patrão, quando diz 'ninguém pode servir a dois patrões e senhores: a Deus e ao dinheiro'. Santo Inácio ensina-nos que há três degraus: o primeiro é a riqueza que começa a corromper a alma; depois, é a vaidade - as bolas de sabão, com uma vida vaidosa, a aparência, a boa figura… - e, por fim, a soberba e o orgulho. Daqui derivam todos os pecados. Por isso, não é fácil; temos sempre de reflectir continuamente”, referiu.
Francisco acrescenta que “as tentações do Papa são as de qualquer pessoa, de qualquer homem, de acordo com as fraquezas de personalidade de cada um, que o diabo aproveita sempre para entrar e que são a impaciência, o egoísmo, um pouco de preguiça… entram todas, todas. E as tentações acompanhar-nos-ão até ao último momento, não é?”
O Papa mostrou-se também contente com a dimensão universal do Ano da Misericórdia, uma vez que o Jubileu não foi só em Roma, mas espalhado por todas as dioceses do mundo.
“Só posso referir as notícias que chegam de todo o mundo e o facto de o Jubileu não ter sido só em Roma, mas em cada diocese do mundo, nas dioceses, catedrais e igrejas que o bispo indicou, tudo isso universalizou um pouco o Jubileu. E fez um grande bem”, disse.
Reconhece, nesta entrevista de 40 minutos à TV2000, que o mundo tem falta de ternura e de misericórdia, porque temos o coração duro. Francisco usa a expressão “cardioesclerose” para definir esta doença da actualidade que está na origem da cultura que descarta os idosos, os mais frágeis, as crianças por nascer e a insensibilidade dos que vendem armas, os que fazem a guerra e bombardeiam, indiscriminadamente escolas e hospitais.
Nos tempos livres, Francisco telefona para algumas prisões e fala com detidos que conhece, esperando que o tempo passado no cárcere ajude à futura reinserção. Por isso, condena a pena de morte e também a prisão perpétua, classificando-a de “pena de morte disfarçada”.
O Sumo Pontífice diz que tem “alergia aos bajuladores. Sou mesmo alérgico. Não é virtude, mas é uma reacção natural porque bajular outro é usar a pessoa com um objectivo - disfarçado ou à vista de todos - para obter alguma coisa em proveito próprio. Isso é indigno. Lá em Buenos Aires usamos uma expressão da gíria popular, chamamos-lhe ‘lambe-botas’. É muito feio lamber as botas do outro, mas é uma expressão bem conseguida.
Confirma ainda que dorme que nem uma pedra e que é saudável, “apesar de alguns achaques na coluna”.
O Papa também se referiu ao aborto como “crime horrendo” e “pecado gravíssimo".