Os alunos mais prejudicados pelo ensino à distância vão necessitar um “cuidado especial” no início do próximo ano letivo, para recuperar dos constrangimentos do 3.º período causados pela pandemia de Covid-19, defende o antigo ministro da Educação Nuno Crato.
Apesar de considerar que o ensino a distância pode ser positivo, se funcionar como um complemento ao ensino presencial, aquele que entende funcionar melhor, o antigo ministro dos governos de Passos Coelho admitiu que, por si só e como funcionou durante o último período, este modelo é “duplamente prejudicial”.
Nos últimos três meses, o ensino foi obrigado a afastar-se do espaço físico das escolas e passou a fazer-se à distância, sobretudo, através de meios digitais, depois de o Governo ter suspendido todas as atividades letivas presenciais, em 16 de março, devido à pandemia da covid-19.
Ao longo deste tempo, um dos principais problemas apontados ao regime de ensino a distância foi o acentuar de desigualdades pré-existentes entre alunos, pelo contexto socioeconómico e familiar em que se inserem, ou pelas dificuldades de acesso aos meios digitais para acompanhar as aulas.
Nuno Crato partilha essa perceção e explica que quando o ensino é feito exclusivamente a distância acaba por ser prejudicial para alguns alunos, em particular para aqueles com constrangimentos do ponto de vista tecnológico e para aqueles que, num contexto normal, já tinham maior dificuldade em acompanhar as matérias.
“É preciso dar uma atenção grande a esses alunos, porque se esses alunos se atrasam, atrasam-se em relação a tudo”, explicou, sublinhando que no início do próximo letivo as escolas terão de ter isso em conta no âmbito da recuperação de algumas matérias.
“Mas os bons professores sabem isso naturalmente”, acrescentou.
Atualmente, Nuno Crato lidera o projeto Teresa e Alexandre Soares dos Santos - Iniciativa Educação que, no dia 1 de junho, lançou o projeto Histórias de AaZ, que disponibiliza online vídeos de apoio à leitura a pensar, precisamente, nos alunos com maiores dificuldades.
Este projeto enquadra-se no programa AaZ – Ler Melhor, Saber Mais, que pretende ultrapassar falhas na aprendizagem inicial da leitura e escrita, evitando a desmotivação dos alunos, que são acompanhados semanalmente por um professor-tutor.
Nuno Crato referiu o programa de apoio à leitura, que durante a pandemia também passou para os meios digitais, para explicar como é importante responder tão cedo quanto possível às dificuldades dos alunos, de forma a evitar que essas se acentuem.
“É muito importante, às primeiras dificuldades dos jovens, haver uma intervenção atempada para que possam acompanhar os seus colegas e que possam desenvolver-se e chegar todos ao que nós queremos. E esta pandemia trouxe de facto problemas acrescidos aí”, explicou.
As avaliações regulares que a Iniciativa Educação conduz no âmbito do programa AaZ confirma essa importância e, segundo Nuno Crato, as crianças do 1.º ciclo que são acompanhadas semanalmente melhoram mais rapidamente a sua capacidade de leitura.
“O objetivo é que subam de tal maneira que rapidamente cheguem àquilo que todos os jovens devem atingir no fim do 1.º e 2.º anos de escolaridade”, refere o presidente da Iniciativa Educação, que além deste projeto tem também o programa Ser Pro, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento do ensino profissional, aproximando escolas e empresas.
O próximo ano letivo começa entre 14 e 17 de setembro com aulas presenciais, anunciou na terça-feira o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues.
O Ministério da Educação prepara “um conjunto de matérias e de trabalhos com as comunidades educativas para que as primeiras cinco semanas sejam de plena recuperação e de consolidação de tudo aquilo que não foi possível fazer ao longo deste ano”, adiantou Tiago Brandão Rodrigues.
O ministro falava numa escola de Odivelas, onde foi acompanhado pelo primeiro-ministro. António Costa disse, na ocasião, que o principal objetivo do próximo ano letivo é permitir à generalidade dos alunos recuperar os défices de aprendizagem em resultado da interrupção das aulas por causa da pandemia de covid-19.