Os polícias devem estar preparados para a crítica e perceber que os cartoons são apenas isso. Mas, ao mesmo tempo, o presidente da Associação Sindical de Profissionais da Polícia, Paulo Rodrigues, diz que a imagem publicada no "Inimigo Público" desta sexta-feira “magoa” os polícias e que a mensagem que transmite é “injusta”.
“Estamos preparados para ser criticados e compreender o cartoon como uma crítica, e os cartoons e as imagens sempre foram uma forma de crítica à sociedade, aos grupos e às instituições. Temos de vê-lo dessa forma”, começa por dizer o sindicalista.
“Não temos de que ficar chateados, mas magoa-nos, porque estamos a viver um momento particular e colocar exclusivamente um polícia naquele cartoon – é a única figura que se identifica naquela imagem – como é evidente não nos satisfaz”, sublinha Paulo Rodrigues.
“É colocarem-nos um rótulo que nos fere bastante”, explica.
Paulo Rodrigues diz que o cartoon da autoria de Nuno Saraiva, em que uma personagem vestida com uma farda da PSP integra um grupo manifestantes com tochas, evocando o episódio que teve lugar no sábado, frente à sede da associação SOS Racismo, onde um grupo de nacionalistas se concentrou com tochas e máscaras brancas a tapar os rostos, toma a parte pelo todo.
Assume que há alguns polícias que se identificam com ideais extremistas, mas o grupo como um todo não pensa dessa forma.
“A maioria dos policias não é racista e somos claramente contra qualquer sinal de racismo, não nos revemos em nenhuma situação que ponha em causa os direitos, as liberdades dos cidadãos, seja ele qual for.”
O sindicalista diz que o racismo deve ser combatido, mas “não pondo todos no mesmo saco e achando que rotular de racismo a polícia é a forma de o combater”.
O líder da ASPP diz que é necessário “fazer um trabalho internamente, para que os poucos sinais, ou situações pontuais que possam ser interpretados dessa forma, não o sejam”.
Na tarde desta sexta-feira, a Polícia de Segurança Pública (PSP) anunciou uma queixa-crime contra o jornal "Público", por causa de uma ilustração que faz a capa do suplemento satírico "Inimigo Público".
"A PSP lamenta a leviandade com que o jornal e o cartoon em questão feriram a boa imagem da instituição e dos polícias que nela servem e protegem os nossos concidadãos", crítica a Polícia.
A discussão à volta do racismo em Portugal voltou a ganhar força depois do assassinato do ator Bruno Candé, alegadamente por motivações racistas, e de na semana passada um grupo de elementos da extrema-direita relacionados com o movimento "Ordem de Avis-Resistência Portugal" se terem manifestado à frente da sede da SOS Racismo.
Posteriormente, foi enviada uma carta com ameaças a vários elementos de organizações antirracistas e a três deputadas, duas do Bloco de Esquerda e a independente Joacine Katar Moreira.
A PJ e o Ministério Público estão a investigar os contornos do caso.
Ainda na quinta-feira, o Presidente da República (PR), Marcelo Rebelo de Sousa, falando sobre este tema, pediu a todos os democratas que sejam “firmes nos princípios”, mas também "sensatos" na forma como fazem a defesa desses valores. Marcelo alerta para os perigos de dar munições a quem quer aproveitar o tema do racismo para criar um clima de divisão na sociedade portuguesa e capitalizar com ele para promover “fenómenos antissistémicos”.
Também o Governo e alguns partidos da oposição tomaram posições de repúdio e condenação em relação às ameaças que foram feitas pelos grupos de extrema-direita.