Não foram cerca de 1.500 mas 1.834 os militares que, até à data de dezembro de 2022, abandonaram os três ramos das Forças Armadas. As contas são da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) com base nos dados da Direção Geral da Administração e Emprego Público.
“O ministério está a assumir a perda de 1.500 efetivos, 5% num ano, revela que se apercebeu que as medidas dos últimos anos não estão a ser eficazes. Desde 2014 que não havia uma perda tão grande de efetivos”, explica.
António Mota sublinha que “as condições gerais são muito más e até o Presidente da República disse recentemente que enquanto os militares estiverem na cauda os problemas não se resolvem”.
No terreno o desanimo é evidente e “não se pode pagar o ordenado mínimo a uma Praça! É preferível estar ao balcão num supermercado do que estar nas Forças Armadas a executar missões de risco, horários de 60 e 80 horas semanais, estar longe da família e não ganhar horas extraordinárias”.
“Foram fazendo ouvidos de mercador”
Por seu lado Lima Coelho, da Associação Nacional de Sargentos, lamenta que as entidades responsáveis tenham feito “ouvidos de mercador” apesar das denuncias, “mais grave é que muitos dos que saem não estão em formação mas têm muitos anos de serviço e elevados níveis de qualificação”.
Alerta para o risco das Forças Armadas se poderem transformar “num corpo ao serviço de outros interesses, meramente expedicionário para cumprimentos de missões internacionais e isso é enganar os cidadãos”.
Lima Coelho considera que muito vale o facto dos militares “continuarem a desempenhar a sua missão contribuindo para a boa imagem dos políticos portugueses”, lamentando que não tenham força reivindicativa, como outras profissões, e por isso “faz-se gato sapato deles sem os chamar a discutir as questões de fundo”.
“Cada vez somos menos para as missões”
Paulo Amaral, da Associação de Praças, considera que os números “são a prova da degradação dos efetivos, não existem números que compensem essa quebra, e os números que têm vindo a público sobre candidaturas não são sinónimo de que todos fiquem nas fileiras”, acrescenta.
Este responsável considera que “enquanto não houver real valorização salarial e das carreiras a questão do quadro permanente de Praças na Força Aérea e Exército (em preparação pelo governo) não será solução”.
Revela também que há militares com 20 anos de serviço a sair para concorrerem a quadros da administração publica.
“Cada vez somos menos para as mesmas missões, e isto vai criar mais desgaste nos militares porque as funções são as mesmas, ou mais, e os militares têm de se desdobrar”, diz Paulo Amaral.