O degelo já está a afetar a rotação da Terra e, por consequência, os relógios. Nos últimos 50 anos, todas as descontinuidades de tempo levaram a que tempo fosse acrescentado aos relógios. Mas, devido ao ritmo acelerado de derretimento das calotas polares na Gronelândia e na Antártida, o planeta está a abrandar.
Um estudo, publicado na revista científica Nature esta quarta-feira, sugere que, a partir de 2026 e devido à Terra estar a rodar mais lentamente, podemos começar a retirar segundos, em vez de os acrescentar. E que as alterações climáticas são responsáveis por retardar o problema em três anos.
O alerta é deixado pelo investigador Duncan Agnew, geofísico no Instituto de Física Planetária da Universidade da Califórnia San Diego, que explica que, à medida que o gelo derrete nos pólos, a concentração da massa da Terra muda e que isso influencia a velocidade angular do planeta. E compara o fenómeno à dinâmica de um patinador no gelo.
“Se um patinador começar a rodar, se baixar os braços e levantar as pernas, isso fará com que desacelere”, disse. Do lado contrário, se a patinadora fechar os membros, rodará mais rápido.
Assim, uma menor concentração de gelo na Gronelândia e Antártida fará com que uma maior massa do planeta esteja concentrada no Equador - a cintura da Terra.
O estudo aponta que a influência humana está a mudar a velocidade de rotação do planeta, algo que Agnew considera “impressionante”.
Entre 1972 e 1999 foi acrescentado anualmente um segundo ao UTC (Tempo Universal Coordenado) - 27 segundos no total. No entanto, tal só aconteceu por quatro vezes desde o início do milénio e o estudo mostra que a partir de 2026 podemos começar a retirar segundos, em vez de os acrescentar. Num cenário um mais otimista, não haverá subtração ou adição de segundos até 2040.
O cenário mais provável, tendo em conta a rotação da Terra, é de retirada de um segundo no ano de 2029, algo que foi retardado por três anos devido às alterações climáticas e à transferência de massa do planeta.