Nicarágua. Semana Santa sem procissões nas ruas
05-04-2023 - 07:35
 • Olímpia Mairos

ONU aprova por mais dois anos a extensão do mandato dos peritos internacionais que estão a investigar a situação de direitos humanos no país.

O Centro Nicaraguense dos Direitos Humanos (CENIDH) denuncia a repressão do Governo de Daniel Ortega e diz que, este ano, sem as procissões, a Semana Santa ficará “incompleta, mutilada”.

Na sua página na Internet, citada pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, a organização de defesa dos direitos humanos, enumera algumas das situações em que as comunidades cristãs já se viram impedidas de realizar as tradicionais procissões da Semana Santa.

De acordo com o CENIDH as proibições já aconteceram em León, San Benito de Palermo, Grenada ou Masaya, por exemplo, alertando para outro tipo de repressão, como a ameaça de detenção de um sacerdote que manifestou apoio ao bispo de Matagalpa, condenado a 26 anos e quatro meses de prisão.

Situações que levam o Centro Nicaraguense dos Direitos Humanos a afirmar que a Semana Santa deste ano, sem as procissões, que são uma manifestação da religiosidade popular, “ficará incompleta, mutilada”, e que tudo isto representa uma “flagrante violação da liberdade de consciência, religião e expressão”.

“O regime de Daniel Ortega quer destruir o mais sagrado e solene do povo: a sua fé cristã e as suas tradições”, acusa o CENIDH.

ONU prolonga presença por mais dois anos

Face à instabilidade vivida no país e ao constante atropelo aos direitos humanos, a ONU vai estender por mais dois anos o mandato dos peritos internacionais no país.

Em março, o grupo de peritos apresentou um relatório em que se denunciava “violações de direitos humanos que configuram crimes contra a humanidade”, e que estão a ser cometidos “contra civis na Nicarágua”.

Segundo o relatório, citado pela AIS, as alegações de abusos, que incluem “execuções extrajudiciais, prisões arbitrárias, tortura, privação arbitrária da nacionalidade e do direito de permanecer em seu próprio país”, não são casos isolados, mas sim “o produto deliberado do desmantelamento de instituições democráticas e da destruição do espaço cívico-democrático”.

Segundo um dos relatores independentes, Jan Simon, tais violações estão a ser cometidas “de forma sistemática e configuram crimes contra a humanidade de assassinato, encarceramento, tortura, violência sexual, deportação e perseguição política”.