Para viver a fraternidade universal de modo concreto e “perseverar no bem mesmo quando recebemos o mal”, é preciso “quebrar a espiral da vingança, desarmando a violência, desmilitarizando o coração”, disse este sábado o Santo Padre no Estádio Nacional do Bahrain.
Pela primeira vez na história deste país esmagadoramente muçulmano, um Papa celebrou missa ao ar livre para uma vasta comunidade católica de milhares de fiéis estrangeiros que trabalham e vivem neste país e muitos outros católicos que vieram do Kuwait, Qatar, Arábia Saudita e outros territórios do Golfo.
Francisco convidou os fiéis a “amar sempre e amar a todos”, tal como fez Jesus. “A grandeza do seu poder não se serve da força da violência, mas do amor incondicional”, recordou. Por isso, este convite não é só “quando as coisas correm bem e temos vontade de amar, mas sempre; não apenas aos nossos amigos e vizinhos, mas a todos, mesmo inimigos.”
Claro que “Jesus bem sabe que há conflitos, opressões, inimizades”. E que “Ele vê e sofre ao contemplar, nos nossos dias e em muitas partes do mundo, exercícios do poder que se nutrem de opressão e violência, procuram aumentar o espaço próprio restringindo o dos outros, impondo o próprio domínio, limitando as liberdades fundamentais, oprimindo os mais frágeis”, disse o Papa.
Mas é em situações deste género que a proposta de Jesus “é surpreendente, intrépida, audaz. Pede aos seus a coragem de arriscar por algo que, na aparência, é perdedor; pede-lhes para permanecerem sempre, fielmente, no amor, apesar de tudo, mesmo perante o mal e o inimigo”. Haverá atritos, momentos de tensão, conflitos, diversidade de perspetivas, “mas quem segue o Príncipe da paz deve procurar sempre a paz”.
Francisco pediu para se “desativar, quebrar a cadeia do mal, romper a espiral da violência, deixar de guardar ressentimento, pôr fim a lamúrias e lamentos acerca da própria sorte” como condição para poder “seguir o caminho de Jesus e construir a paz na terra. Amar sempre.”
Mas se, já é difícil, embora razoável, amar o próximo, o nosso vizinho, “que sucede se, quem estava distante vem para perto de nós, se quem é estrangeiro, diferente ou de outro credo se torna nosso vizinho de casa?”, perguntou o Papa.
A pensar na diversidade e migração permanente, usos e tradições dos povos que vivem nestes países do Golfo, Francisco desafiou os católicos desta região a “aprender a amar a todos, mesmo o inimigo”. O Papa citou o Evangelho «Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem» (5, 43-44) para recordar a todos que o verdadeiro cristão não tem inimigos, nem vê no outro um obstáculo a superar, mas um irmão e uma irmã a amar. “Amar o inimigo é trazer à terra um reflexo do Céu, é fazer descer sobre o mundo o olhar e o coração do Pai, que não faz distinções nem discrimina”, afirmou.
No final da homilia, Francisco disse aos milhares de fiéis presentes: “quero agradecer o vosso humilde e jubiloso testemunho de fraternidade para serem, nesta terra, sementes de amor e de paz” e encorajou-os com “o carinho e a solidariedade da Igreja universal”.