O alerta surge através de um estudo internacional liderado por cientistas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC). Em pinguins na Antártida foi descoberta a presença de microplásticos (partículas com menos de 5 mm), como poliéster e polietileno, entre outras partículas de origem antropogénica.
Segundo a Universidade de Coimbra, as análises realizadas permitiram verificar a presença generalizada de microplásticos em todas as espécies, colónias e anos do estudo.
“Além das partículas de plástico, foram encontradas em quantidades semelhantes outras partículas processadas, na maioria fibras, que, apesar de serem de origem natural (celuloses), são produzidas artificialmente e podem ter compostos, como tintas, que podem persistir no ambiente”, indica a universidade em comunicado enviado à Renascença.
O estudo, já publicado na revista Science of the Total Environment, demonstra, segundo os autores, que “os microplásticos estão cada vez mais difundidos nos ecossistemas marinhos, identificados agora na Antártida, o que é preocupante, dada a sua persistência no meio ambiente e a sua acumulação nas cadeias alimentares”.
De acordo com a autora principal do estudo e investigadora do Departamento de Ciências da Vida da FCTUC e do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), Joana Fragão, citada no comunicado, “o mais impressionante dos resultados foi verificar que os microplásticos estavam presentes na dieta das três espécies de pinguins, em vários locais e nos vários anos do estudo (2006, 2007, 2008, 2012, 2013, 2014 e 2016), o que demonstra que estas partículas se encontram já bem difundidas no ecossistema marinho Antártico”.
Já Filipa Bessa, coautora do estudo e especialista em poluição por microplásticos da Universidade de Coimbra, defende que, “agora que sabemos que várias espécies de pinguins de regiões remotas como a Antártida ingerem microplásticos, mas que não existe um foco específico para a origem destas partículas, o próximo passo é também avaliar os efeitos destas partículas nestes ambientes”.
Para José Xavier, autor sénior do artigo científico, os resultados obtidos “vão certamente ser muito úteis para abrir novas áreas de investigação nesta temática e avançar com políticas para reduzir o impacto da poluição por plásticos no Oceano Antártico, no contexto do Tratado da Antártida”.
No entender dos três cientistas da FCTUC, “são necessários mais estudos para entender melhor a dinâmica espaço-temporal, destino e efeito dos microplásticos nesses ecossistemas, e controlar a contaminação por plásticos na Antártida.
No estudo, no qual participaram também investigadores da Universidade de Nova de Lisboa, do Museo Nacional de Ciencias Naturales (Espanha) e do British Antarctic Survey (Reino Unido), foram utilizadas amostras de fezes de três espécies de pinguins – pinguim Adelie (Pygoscelis adeliae), pinguim de barbicha (Pygoscelis antarcticus) e pinguim gentoo (Pygoscelis papua) – recolhidas entre 2006 e 2016.