Na campanha eleitoral Lula teve o apoio de políticos prestigiados, como o antigo presidente Fernando Henrique Cardoso, porque uma vitória eleitoral de Bolsonaro seria trágica para a democracia brasileira. Mas muita gente ainda persiste em ver em Lula um corrupto, que até esteve preso.
O que implica para o agora presidente uma atenção especial, de modo a dissipar essa acusação de corrupto. O seu governo será atentamente vigiado, desde logo pelos seus adversários, inimigos da democracia. Todo o cuidado será pouco.
O governo de Lula conta com políticos de várias formações partidárias, de maneira a permitir alguma margem de manobra num Congresso (parlamento) onde as forças hostis pretendem bloquear o executivo. Dessa situação emerge um risco: o de conflitos internos no próprio governo. Fala-se, por exemplo, num potencial conflito entre o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e a ministra do Ambiente, Marina Silva, sobre a defesa da Amazónia – talvez a questão que suscita maior interesse no estrangeiro.
Uma coisa é certa: governar o Brasil neste momento vai requerer uma negociação permanente com todas ou quase todas as forças políticas representadas no Congresso. Nessa difícil tarefa depara-se ao governo de Lula um obstáculo – o facto de a presidência anterior ter desmantelado grande parte de vários ministérios cuja conduta não agradava aos “bolsonaristas”.
A perspetiva de um forte abrandamento da economia brasileira no corrente ano e de uma inflação que resiste a descer também não serão fatores favoráveis ao governo de Lula.
Todos estes condicionalismos são bem conhecidos de Lula e dos seus apoiantes. Que o presidente do Brasil nos surpreenda pela positiva são os votos de todos os democratas.