“Claramente não” se justifica o apoio estatal à TAP, defende Carlos Guimarães Pinto, que em coautoria com André Pinção Lucas escreveu o livro “Milhões a Voar - As mentiras que nos contaram sobre a TAP”.
Admitem que a companhia aérea nacional desapareceria sem esta injeção, mas “a insolvência já seria um destino provável, mesmo sem a pandemia”. Com grande probabilidade seria substituída, como aconteceu na Suíça e na Bélgica.
“Não é um dado adquirido que deixasse de haver uma companhia aérea em Portugal e, muito menos, que deixasse de haver voos”, sublinham.
A fila de interessados no negócio da TAP é longa. “Desde que exista procura, haverá sempre investidores disponíveis para garantirem esse serviço”.
Os autores concluem ainda que este apoio não deve ser avaliado pelos impactos positivos, mas pelo “impacto que outras utilizações alternativas do dinheiro dos contribuintes poderiam ter”. No mínimo, a TAP vai receber cerca de 400 euros por português, ou 800 por cada português trabalhador. “É uma das companhias que mais dinheiro vai receber em termos absolutos. Em termos relativos, em relação ao PIB do país e às despesas públicas, é de muito longe a que mais vai receber em toda a Europa”.
A TAP é essencial para o Turismo?
“A TAP só é relevante no aeroporto de Lisboa”, onde tinha cerca de 50% dos passageiros antes da pandemia, defende Carlos Guimarães Pinto em entrevista à Renascença.
No entanto, não faltam companhias aéreas interessadas em ocupar as "slots" da TAP no aeroporto da capital.
Na Europa há vários exemplos de países que deixaram cair a companhia aérea de bandeira sem que o turismo ou os indicadores económicos tenham caído, “antes pelo contrário”.
“As pessoas não fazem turismo em Portugal porque gostam de andar na TAP. Não! Elas querem vir para cá e por isso é que andam na TAP. Elas continuariam a querer fazer turismo cá, e usariam a companhia aérea que lhes permitisse fazer isso. E não faltam companhias aéreas com vontade”, garante Carlos Guimarães Pinto.
Mas a TAP é essencial para o emprego?
Também não, responde o antigo líder da Iniciativa Liberal. “Já perdeu quatro mil empregos e não se viu que tivesse havido um grande aumento da taxa de desemprego do país”. É uma grande empregadora, mas a nível nacional é residual, argumenta.
Carlos Guimarães Pinto admite que “cada emprego perdido é sempre uma pena” mas, neste caso, “estamos a falar de pessoas altamente qualificadas, com salários médios a rondar os 60,70 mil euros por ano, muito mais facilmente do que qualquer [trabalhador de] fábrica têxtil encontram alternativas”.
Além disso, a ajuda do Estado é desproporcional face à quantidade de empregos salvos, sublinha o coautor de “Milhões a Voar – As mentiras que nos contaram sobre a TAP”.
E os impactos indiretos?
É uma estatística inventada nos gabinetes ministeriais, para sustentar a argumentação, defende o diretor-executivo do Instituto + Liberdade.
No emprego, “os efeitos indiretos não passam de uma invenção, para inflacionar o efeito da TAP”.
No resto da economia o resultado é o mesmo. Os autores admitem algum impacto, junto dos fornecedores diretos, mas longe dos números apresentados pela tutela.
Excluídos o combustível e custos operacionais, “a TAP compra no máximo 500 milhões de euros a fornecedores portugueses, distante dos 1.300 milhões apontados por Pedro Nuno Santos”, o ministro das Infraestruturas.
“O setor da restauração não depende absolutamente em nada da TAP, o setor têxtil de que se fala, o que vai acontecer com os uniformes, é uma parte irrelevante do negócio desses setores”, diz Carlos Guimarães Rodrigues.
“Esses setores têm flutuações muito maiores nos negócios de mês para mês e até nesta pandemia, dez vezes, 20 vezes superiores, do que se a TAP deixasse de comprar os uniformes e os croissants.”
Até nos impostos não é dita toda a verdade, alegam os autores de “Milhões a Voar” (Edições Aletheia). A maioria do que a TAP paga são impostos sobre o trabalho e esta receita só se perde se os trabalhadores ficarem no desemprego ou emigrarem.
Resta o impacto na balança comercial portuguesa
De todos os argumentos, a importância da companhia aérea na balança comercial é a que mais se aproxima da realidade. No entanto, só contam metade da história, dizem os autores. Sim, a TAP é uma das maiores exportadoras nacionais, mas é também das que mais importa, em 2017 ficou na segunda posição.
“Se só descontarmos o que a TAP importa, os combustíveis que mesmo comprando nacionalmente grande parte tem conteúdo importado, estamos a falar de um impacto na balança comercial inferior a 1.500 milhões de euros. Aliás, deve estar mais próximo de mil milhões de euros, o que é cerca de um terço do impacto que normalmente se fala”, explica Guimarães Rodrigues.