A inflação em Portugal começou meses antes da invasão da Ucrânia pela Rússia. Essa invasão acentuou a alta dos preços. Mesmo sabendo disso, os números de outubro são chocantes. No setor da alimentação os preços subiram 18% entre outubro de 2021 e igual mês do corrente ano. Essa é uma média, pois registaram-se aumentos bem superiores nos legumes ou na carne, por exemplo.
Como é óbvio, o brutal encarecimento da alimentação atinge sobretudo os mais pobres. A fome já é uma trágica realidade que alastra na sociedade portuguesa. Tornou-se um imperativo ético que o Estado intervenha para mitigar o sofrimento de, pelo menos, cerca de dois milhões de portugueses e outros residentes no país.
Receando aumentar a inflação, o Governo tem sido prudente nos apoios para mitigar a alta dos preços. O BCE já criticou alguns desses apoios. Mas agora a decisão política não pode tardar. Importa não apenas ajudar os dois milhões que, entre nós, estão na miséria, como também apoiar financeiramente as instituições de solidariedade social que estão a ficar sem recursos, agravando ainda mais a situação dos pobres que a elas recorrem.
Para que não haja medidas orçamentais que possam contrariar a política monetária restritiva do BCE, um apoio de emergência aos mais desfavorecidos terá que obedecer a duas condições: ser um apoio temporário, talvez por apenas um ano; e, em segundo lugar, ser um apoio direcionado ao grupo dos mais pobres. O próprio Fundo Monetário Internacional tem insistido nestas duas condições.
Claro que, politicamente, um apoio que não envolva a classe média pode levantar incompreensões e críticas. Mas a classe média é a grande maioria da população; apoiá-la a sério seria financeiramente incomportável.
Por isso, o Governo, que dispõe de uma maioria absoluta, deverá anteceder o apoio à minoria dos mais pobres com uma campanha pedagógica convincente, baseada na justiça social. Para que todos compreendam.