“Rezemos para que o Senhor liberte as vítimas do tráfico e nos ajude a responder ativamente ao grito de ajuda de tantos irmãos e irmãs privados da sua dignidade e liberdade”, escreveu esta terça-feira o Papa Francisco na sua conta no Twitter. Uma mensagem para assinalar o Dia Mundial contra o Tráfico Humano, que o Papa já considerou um “crime contra a humanidade”.
Calcula-se que pelo menos 21 milhões de pessoas sejam vítimas de tráfico em todo o mundo, desde trabalho forçado a exploração sexual.
Só na Europa um quarto das vítimas de tráfico humano são menores.
Em janeiro de 2019 o Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, do Vaticano divulgou as Diretrizes Pastorais sobre o Tráfico Humano, nas quais alerta para os perigos crescentes do “contrabando de migrantes” e pede uma ação concertada, a nível internacional, na defesa das vítimas.
O novo “manual” para as comunidades católicas e instituições religiosas alerta para a linha “cada vez mais ténue” que separa o contrabando de migrantes e o tráfico humano, lembrando que “muitos adultos, ao procurarem escapar à guerra ou aos desastres naturais, acabam por se tornar vítimas do tráfico ou por ser forçados à escravidão”.
Os novos “escravos” do século XXI
O Dia Mundial contra o Tráfico Humano foi instituído a 30 de julho de 2013 pela Assembleia Geral da ONU, que hoje assinalou a data com uma exposição sobre o trabalho de várias congregações religiosas femininas nesta área. Na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, decorreu também uma conferência da coordenadora da Rede internacional ‘Talitha Kum’, a irmã Eugenia Bonetti, presidente da associação ‘Slaves no More’, que em junho recebeu o prémio ‘Heróis contra o tráfico de pessoas’, num evento presidido pelo secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, em Washington.
Na conferência desta terça-feira, na ONU, a irmã Bottani contou como há 20 anos descobriu que a sua missão de vida passaria por resgatar jovens e mulheres da prostituição. "Quantas lágrimas e quanto sofrimento já vi por causa deste crime contra a humanidade. Mas, nestes anos, graças à associação ‘Slaves no More’, conseguimos remover mais de 6 mil mulheres da rua", revelou a religiosa.
Eugenia Bonetti lamenta, no entanto, que haja ainda muita indiferença contra este fenómeno, que está por trás da nova escravatura do século XXI. “Acredita-se que a palavra escravo pertence a uma herança cultural passada, mas no nosso século há pessoas que continuam a viver o seu caminho de cruz nas nossas estradas", denunciou a religiosa, para quem “diante de tanta dor, o maior mal é a indiferença do homem”, que nada faz para pôr fim ao sofrimento destas pessoas.
“Com a nossa indiferença tornamo-nos cúmplices de exploração”, afirmou ainda Eugenia Bonetti, para quem "a denúncia e a luta contra o fenómeno são um grande desafio para todos".