Prosseguem os trágicos incêndios florestais na Austrália. Já ali ardeu uma superfície equivalente a mais de metade do continente português. Há dezenas de mortos e desaparecidos, mais de 1 300 casas destruídas, sucedem-se os cortes de luz eléctrica e do abastecimento de água. O governo federal mobilizou três mil reservistas das Forças Armadas para reforçar a intervenção militar, sobretudo na evacuação, incluindo por via marítima, de populações em pânico. Mas de cem mil pessoas fogem desesperadas dos fogos.
As temperaturas continuam muito altas e não se vê quando acabará esta tragédia, a pior da história australiana. É uma tragédia absurda porque, tendo começado em julho passado, o governo federal não promoveu adequadas medidas de prevenção nem de combate aos fogos. O primeiro-ministro, Scott Morrison, recusou em dezembro organizar uma reunião de alto nível para enfrentar o problema. Preferiu ignorá-lo e partir com a família para umas férias no Hawaii, de onde teve de regressar à pressa nas vésperas do Natal, perante a dimensão dos fogos e os protestos dos australianos.
O segundo mais importante artigo de exportação da Austrália é carvão. Este combustível altamente poluente origina cerca de dois terços da eletricidade consumida no país. E na recente cimeira do clima promovida pela ONU em Madrid os representantes da Austrália foram dos mais reticentes a tomar medidas para enfrentar as alterações climáticas. O governo australiano não acredita na urgente necessidade desse combate. Por exemplo, eliminou um imposto sobre o CO2 introduzido pelo governo anterior.
O milionário australiano Rupert Murdoch, que agora vive nos Estados Unidos, controla mais de metade dos jornais australianos. Ora Murdoch, tal como Trump ou Bolsonaro, é um cético em relação à importância da luta contra as alterações climáticas. Mas a dantesca dimensão destes incêndios, que já consumiram cinco vezes mais floresta do que os recentes fogos na Amazónia, está a virar a opinião pública australiana para uma atitude menos primária face problemas ambientais. Ao menos isso...