Desde 2007 que o mundo não assistia a tantas restrições à liberdade religiosa, conclui um estudo da Pew Research Forum divulgado esta terça-feira.
Segundo o estudo, em 2018 – o ano que foi analisado – o número de países que restringia muito a prática religiosa era de 56, o que equivale a 28% de todos os estados no mundo, mais do que um em cada quatro.
A distribuição destes países é, contudo, desigual, com o norte de África e o Médio Oriente a contar com 18 países com altas restrições à religião, o que representa 90% dos estados daquela região. Na região da Ásia-Pacífico a proporção é menor, 50%, mas aplica-se a 25 países diferentes.
A região asiática é, aliás, responsável pela maior subida de restrições religiosas ao longo dos últimos anos, embora esse aumento tenha acontecido sobretudo entre os países com baixos níveis de repressão religiosa. No total houve casos de opressão em 31 países deste continente.
Os casos concretos variam entre a detenção de um membro da comunidade Baha’i, na Arménia e a expulsão de missionários protestantes das Filipinas, depois de se ter sabido que estavam envolvidos numa investigação à violação de direitos humanos, nos casos considerados menos graves, mas chega à violação em larga escala dos direitos humanos dos muçulmanos de etnia rohingya, na Birmânia, conhecida também como Myanmar. Este país é um dos que violou mais gravemente as liberdades religiosas, tendo, segundo organizações não governamentais citadas pela Pew, perseguido etnias cristãs nos estados de Kachin e de Shah.
A China, um estado oficialmente ateu que não aceita a prática religiosa fora da supervisão e controlo direto do estado, está também entre os que violou de forma mais grave a prática religiosa, encabeçando a lista de estados com maiores restrições não só na Ásia, como no mundo, embora o estudo deixe claro que a Coreia do Norte não foi incluída, por falta de dados fiáveis.
A Europa não está livre de casos de restrições à liberdade religiosa, com 16 países a receber a classificação de restrições alta ou muito alta. Os países europeus de maior preocupação tendem a ser os do Leste, incluindo a Rússia, mas alguns estados ocidentais também preocupam, incluindo a Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Suíça e Reino Unido, embora nestes casos a maior parte dos problemas tenha surgido do campo social, em vez do estado. O estudo dá como exemplo a Suíça, onde um jornalista atribuiu um prémio à pessoa ou entidade que mais fez para impedir o avanço do Islão no país.
As referências a Portugal no estudo apresentam sempre o país entre os estados com menos restrições à religião, tanto em termos de política estatal como em termos de hostilidade social. Dos países lusófonos, o Brasil vem referido também como um dos países com menos casos de restrição religiosa.
Cristãos os mais perseguidos
Segundo o estudo da Pew os cristãos continuam a ser o grupo religioso mais perseguido no mundo.
Em 2018 houve relatos de cristãos perseguidos em 145 países, mais dois do que em 2017. Em 139 países, menos um do que no ano anterior, houve perseguição de muçulmanos, embora seja de realçar que entre os países que mais perseguem os muçulmanos estão os próprios países islâmicos, em que membros da confissão muçulmana não-dominante, ou minoritária, sofrem pressão das autoridades.
Apesar do seu número reduzido, em termos mundiais, os judeus foram perseguidos em 88 países do mundo, com incidentes incluindo o esfaqueamento de uma sobrevivente do holocausto, de 85 anos, em França.
Os budistas foram o grupo religioso que teve o maior aumento de perseguição estatal, passando de 19 países em 2017 para 24 em 2018.
[Notícia atualizada às 18h10]