José Cid, o ponta esquerda do Mogofores (e a promessa de um hino do Benfica renovado)


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Adepto do Benfica, "mas nada faccioso", diz que gosta de ver jogar futebol e acompanha a selecção. José Cid acha "interessante" a escolha do hino de apoio este ano. "É bem pensado transformar uma música do Pedro Abrunhosa em hino-canção", porque "ele é talentosíssimo" e "quando escreve abrange muita coisa, muita alma, muitos portugueses".

Ainda assim, Cid deixa uma ideia para a Federação Portuguesa de Futebol: fazer uma espécie de festival da canção para momentos como este Euro 2016. Acredita que não tardariam a surgir novas músicas interessantes e o próprio até "adoraria", um dia, musicar um poema sobre futebol.

Mas bola é coisa que não o inspira a escrever, reconhece, e, por isso, tem no repertório apenas uma música, como cantor, à volta do futebol. José Cid é uma das vozes daquele que terá sido o primeiro hino de apoio à selecção portuguesa, em 1984.

Incomodado com o êxodo de jogadores

Quando lhe dizemos que o tema é futebol, José Cid começa por desfiar lamentos sobre a venda de jogadores ao estrangeiro.

Conta que ficou triste com a saída de Renato Sanches do Benfica e diz que o Sporting é "um exemplo" na formação de jogadores. "Metade das equipas, pelo menos, devia ser composta por portugueses".

E porque falamos de Pedro Abrunhosa faz a ligação: "A dor do dinheiro", do músico portuense, seria "apropriada" para musicar os finais de época em Portugal. Mas não são as verbas envolvidas que mais o incomodam, garante. "É um desperdício, às vezes, porque eles vão para fora e depois até não jogam tanto."

E brinca: "Se me quisessem contratar agora também era capaz de deixar o meu 'label' da Active Records".

"Centrava com a esquerda e a direita. Mas não era nenhum Quaresma"

Mas a oportunidade de Cid como futebolista ficou lá atrás, na juventude. "Em miúdo jogava no clube lá da terra, no Mogofores. Era futebol amador, nada de especial." Mas havia potencial: "Gostava de jogar a ponta esquerda, era bastante rápido. Centrava com o pé esquerdo e com o direito. Mas não era nenhum Quaresma". A comparação sai entre risos (e depois dos dois tentos e assistência para golo do ex-FC Porto no último jogo de preparação para a fase final do Euro).

José Cid jogou no Desportivo de Mogofores, freguesia de Anadia, hoje clube da 3.ª divisão da Associação de Futebol de Aveiro. "Num campo de terra batida que até era um bocadinho a descer. Era engraçado".

A fazer parelha com o cantor, um nome que não fez carreira na música, mas dispensa apresentações no futebol: Toni. O mesmo Toni que, curiosamente, em 1984 era membro da equipe técnica da selecção no Europeu de França. "Ele era ponta esquerda, eu jogava um pouco atrás", conta Cid.

"E, por isso, nessa altura, chamavam ao Toni 'a locomotiva de Mogofores'", lembra. "A casa dele ficava mesmo à beira da linha de comboio."

José Cid acabou por desenvolver aptidões noutros desportos – ténis de mesa (foi campeão universitário), ciclismo ("era bom em circuito, mas péssimo na montanha"), atletismo ("nunca era bom em nada, mas também não era mau em nada, era meio rápido"), ou hipismo, esse sim, desporto em que foi federado e o fez chegar à selecção nacional.

No futebol, e para os dias de hoje, ficou "um certo jeito": "Lembro-me que uma vez fizemos um jogo com a Unicef no Restelo, com muitos artistas portugueses com o Eusébio e brasileiros com o Pelé. Foi muito engraçado. Como eu joguei, marcava uma certa diferença e diziam-me sempre 'vai pra frente, vai pra frente'. Era o único, os outros eram um desastre."

Antes de regressar a 1984, e à canção que serve de mote à conversa, José Cid ainda revela que planeia gravar, com Tozé Brito, uma versão moderna do hino do Benfica.

"Com outra dinâmica instrumental, gostávamos de o renovar. A ideia é manter o hino, sem alterar a melodia e a letra, e fazer uma produção mais dinâmica." Um hino mais "actual" a que se poderiam juntar outros músicos e adeptos do Benfica, para depois oferecer ao clube da Luz.

Afinal, há experiência nestas coisas de hinos futebolísticos. No caso de José Cid, uma parceria vocal com Fernando, Lenita Gentil, Cecília Passos, Luís Arriaga e (a transmontana) Susy Paula, em "Viva Portugal, Viva!".

Do que ainda se recorda desses tempos que ainda não tinham redes sociais para alimentar polémicas tardias, Cid garante que gostou muito: "Foi muito simpático. Foi uma cena colectiva interessante. A minha voz tem um timbre especial e destaca-se às vezes. E foi bonito porque disputamos um bom europeu, espero que a selecção dispute este ano também."

No 45 rotações dedicado aos patrícios nesse Europeu, também há versão em francês para os emigrantes.

Pode ouvir aqui, na íntegra, os dois lados do disco.


"Som de Bola", por Maria João Cunha (jornalista) e Paulo Teixeira (sonorização). Arquivo Renascença: Ana Isabel Almeida

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