O edifício sede da Caixa Geral de Depósitos (CGD) na Avenida João XXI, em Lisboa, vai ganhar nova vida. Construído para acomodar o coração do banco público, vai agora receber também parte do Executivo.
A 23 de março, o gabinete do Primeiro-ministro revelou que António Costa “decidiu avançar com a concentração de ministérios num só espaço físico”, um processo que, nesta primeira fase, a concretizar até ao fim deste ano, vai levar para a sede da CGD “os ministérios com responsabilidade direta na execução do Plano de Recuperação e Resiliência”.
Questionado pela Renascença, fonte do Governo assegura que, nesta altura, não é possível concretizar com total rigor quem irá mudar para estas instalações, mas, do lado da Caixa, é certo que já contam com a ocupação de cerca de 22 mil metros quadrados.
São muitos metros quadrados, mas apenas um oitavo do edifício, que tem quase 175 mil metros quadrados de área útil e o "negócio" terá contrapartidas para o banco.
O edifício, desenhado pelo arquiteto Arsénio Raposo Cordeiro (falecido em 2013), foi, na sua época, considerado um dos mais inovadores. Herculano Silva, engenheiro da TechnoEdif (na altura Lusotecna), gabinete responsável pelo projeto de engenharia, enaltece, por exemplo, os cuidados, na altura pouco comuns, com a sustentabilidade, a qualidade do ar, tratamento de lixos e segurança.
“Foi um edifício muito inovador, que já pensou muito na parte de sustentabilidade, com sistemas muitos avançados à época, em termos principalmente de tratamento de ar, de recuperações que tinha no próprio edifício relativamente à parte ambiental, recuperação de calor”, aponta.
“Mesmo à luz de hoje é um edifício que se mantém atual, que houve cuidado da parte da gestão do edifício” e que “tem todas as condições para ser um bom edifício para albergar a parte ministerial”.
Reconhecendo que a empresa não acompanhou a manutenção do espaço, Herculano Silva deteta, por exemplo, que já foram instalados painéis solares e destaca alguns pormenores construídos de raiz que ainda hoje serão úteis e que, na altura, eram pouco habituais. "Aspiração central e um sistema de destruição de documentos", exemplifica, bem como um avançado sistema de proteção contra incêndios, inspirado na prática de construção norte-americana.
Questionado sobre se faltaria alguma coisa a este edifício,
caso fosse agora construído de raiz para albergar o Governo, Herculano Silva
não identifica nenhuma lacuna. Diz, aliás, que terá, por ventura, uma lógica de
segurança demasiado apertada.
Ainda assim, acrescenta “se pensarmos que o Governo é um órgão
de soberania do país”, pode justificar-se o mesmo grau de sistemas de
segurança.
Banco cada vez mais magro
No final de 2021, a Caixa tinha 6.177 trabalhadores, menos 67 do que em 2020, e 542 agências, menos uma do que em 2020.
No final de 2016 (antes de se iniciar o plano estratégico 2017-2020), na atividade bancária (CGD Portugal) o número de empregados ascendia a 8.113, segundo o relatório e contas de 2016. As agências bancárias eram 717 em Portugal.
É neste contexto de redução do banco que as salas da sede foram ficando vazias. Fonte do banco público diz à Renascença que, pelo menos para já, as duas instituições - Governo e banco - vão coexistir no mesmo espaço.
A mesma fonte recorda que o presidente executivo da CGD, Paulo Macedo, ainda em fevereiro deste ano, admitia a hipótese de ceder parte do espaço a outras entidades, acrescentando até que o banco público pode vir a deixar o edifício, mas só depois de 2026.