Ir apertando o parafuso ao PS e ao Governo e desafiar o primeiro-ministro a vir a jogo a partir das audições na comissão parlamentar de inquérito à TAP. É esta a estratégia do PSD com as cartas que tem na mão, neste momento.
À Renascença, fonte da direção social-democrata diz que a prioridade é "usar a diminuição política" do Governo e do PS à medida que forem decorrendo as sessões do inquérito no Parlamento.
"Vamos ter de continuar a por pressão alta", admite a mesma fonte, que salienta a "posição duríssima" do líder do PSD esta quarta-feira, ainda antes da audição à ex-administradora da TAP, Alexandra Reis, protagonista do inquérito que o PS viabilizou.
"Os portugueses merecem e exigem com urgência uma posição pública do primeiro-ministro face a estes acontecimentos na TAP”, afirmou Luís Montenegro, numa declaração na sede do PSD, no Porto.
Para os social-democratas há, neste momento dois membros do Governo em especiais dificuldades. Este elemento da direção do PSD considera que o ministro das Infraestruturas, João Galamba "muito dificilmente se aguenta" no cargo e é também notada uma fragilidade na ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, que "anda a tentar fugir pelos pingos da chuva".
Galamba já veio defender-se através de comunicado divulgado pelo gabinete das Infraestruturas
referindo que a tal reunião "secreta" de janeiro entre Ourmière- Widener e os deputados do PS realizou-se por iniciativa da própria CEO da TAP.
O PSD quer ouvir o ministro de viva voz e, de resto, antecipou-se às restantes bancadas parlamentares. Poucas horas depois da audição da CEO da TAP, apresentou um requerimento para ouvir o ministro das Infraestruturas na comissão de inquérito.
Depois de três audições, a perceção no PSD é que a comissão de inquérito "está a ser mortífera para Pedro Nuno Santos", o anterior ministro das Infraestruturas, que se demitiu no início do ano precisamente à boleia deste caso. Aos olhos dos social-democratas, " isto está a matá-los".
Eleições antecipadas? Para o PSD "isto não é suficiente"
Há quase um mês o Presidente da República avisou em entrevista à RTP e ao Público que não abdica "do poder de dissolução" que tem até setembro de 2025 e não coloca de parte qualquer "coisa patológica" que, eventualmente, sirva de gatilho para interromper a legislatura.
"Se acontecerem coisas que são do outro mundo, o Presidente tem até ao dia 9 de Setembro de 2025 o poder de dissolução. Deseja utilizá-lo? Não deseja, por várias razões: temos uma guerra, temos crises económicas emergentes, temos um PRR que, na minha visão está atrasado. A minha orientação é essa. Se sentir que, realmente, há uma coisa patológica excepcional, então pondero isso”, disse Marcelo Rebelo de Sousa a 9 de março.
Para já, e para o PSD, a "coisa patológica" ainda não está à vista. Na direção de Montenegro acredita-se que o que se tem ouvido no inquérito parlamentar "é um grande prego no caixão" da maioria absoluta, mas considera-se também que "isto não é suficiente" para que se dê pasto ao argumento da crise das instituições.
"Não chega" para pedir eleições antecipadas a Marcelo, admite fonte da direção social-democrata, que acrescenta que "tem de acontecer mais alguma coisa para além disto", embora reconheça que "há, efetivamente, uma degradação política", na sequência dos episódios TAP.
Governo recusa silêncio sobre TAP. "Já hoje há um comunicado"
Com três ministros - João Galamba, Fernando Medina e Ana Catarina Mendes - e um ex-ministro - Pedro Nuno Santos - debaixo de fogo na comissão de inquérito sobre a indemnização da TAP a Alexandra Reis, o Governo está visivelmente desconfortável, mas recusa que esteja, entretanto, em silêncio sobre o assunto.
Em plena conferência de imprensa após o Conselho de Ministros esta quinta-feira, a número dois do executivo, a ministra da Presidência, insistiu, face às perguntas dos jornalistas, que "este é o tempo da Assembleia da República e da comissão de inquérito".
Mariana Vieira da Silva clarificou que não se trata de "dizer que não há nada a dizer", mas insistiu muito na ideia que, quer a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, quer o ministro das Infraestruturas, já responderam às dúvidas dos últimos dias.
A ministra da Presidência referia-se ao comunicado desta quarta-feira divulgado pelo jornal Observador, em que Ana Catarina Mendes garante que só fez a "ponte" para marcar a já referida reunião "secreta" entre Galamba, o PS e Ourmière-Widener e que a CEO da TAP não terá sido convidada.
De resto, Ana Catarina Mendes, também presente na conferência de imprensa do Conselho de Ministros para apresentar os detalhes da criação da nova Agência que substitui o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, referiu que "é normal haver várias reuniões no Parlamento".
Mariana Vieira da Silva referiu-se também ao comunicado de João Galamba já esta quinta-feira, em que o ministro das Infraestruturas garante que a iniciativa da tal reunião até partiu da própria CEO da TAP.
Visivelmente incomodada com a insistência das perguntas, a ministra da Presidência fez questão de frisar que o Governo não tem fugido à polémica. "Nas últimas semanas houve diversas ocasiões em que o primeiro-ministro deu entrevistas a vários órgãos de comunicação social onde falou de diversos temas", disse Vieira da Silva.
Em concreto sobre o inquérito da TAP, a ministra da Presidência referiu que se tratam de questões que "marcando a atualidade, não são questões de atualidade, são questões que surgiram há varios dias e o Governo também será, no momento em que a comissão parlamentar de inquérito decidir, chamado a responder".
É no "quadro" do inquérito que as respostas de João Galamba, Fernando Medina e, eventualmente, Ana Catarina Mendes "devem ser dadas", segundo Vieira da Silva, "porque senão não haveria uma comissão parlamentar de inquérito". Mais resumido ainda: "o espaço e o momento é mesmo a comissão parlamentar de inquérito".
Fora da habitual conferência após o Conselho de Ministros também há espaço, deixa subentender a número dois do Governo. "Perguntas, comentários, respostas sobre questões políticas de atualidade, todos os dias há membros do Governo que as fazem", concluiu Mariana Vieira da Silva.