Hospital São João. Justiça investiga utilização do dinheiro angariado para construção da nova ala pediátrica
28-10-2019 - 18:47
 • Henrique Cunha

Na origem do inquérito aberto pelo DIAP estará uma discrepância nos montantes angariados para o projeto "Joãozinho". Associação de Pais das Crianças com doença oncológica acusa administração do hospital de "andar a brincar aos donativos". Empresa a quem foi entregue a obra desconhece abertura de inquérito.

O Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Porto abriu um inquérito à construção da ala pediátrica do Hospital São João. A Procuradoria-Geral da República apenas confirma a abertura de um inquérito por parte do DIAP do Porto, não dando mais pormenores sobre a investigação à ala pediátrica do Hospital São João.

Por sua vez, o Conselho de Administração da Unidade confirmou à Renascença que o inquérito “é referente, de acordo com o conhecimento existente, às doações para o projeto do ‘Joãozinho’ e à sua utilização”. Fonte do hospital adiantou ainda que o inquérito se refere a “factos ocorridos antes de 2017” e recusou fazer mais comentários, uma vez que o processo está “em segredo de justiça”.

O DIAP estará então a investigar uma discrepância ao nível dos montantes angariados para a obra, ao abrigo de mecenato.

Em 2009, numa entrevista, o então Presidente do Conselho de Administração do Hospital, António Ferreira revelava que já tinha sido possível reunir quatro milhões de euros. Contudo, quando a Associação Joãozinho tomou conta do projecto, em 2014, o hospital apenas transferiu para a conta da associação pouco mais de 549 mil euros.

Jorge Pires, da Associação de Pais das Crianças com doença oncológica, diz à Renascença que é necessário esclarecer esta diferença de valores. “Andamos a brincar aos donativos. É normal que as pessoas queiram saber o que aconteceu ao dinheiro, se existiu ou não existiu. O dinheiro que foi antes angariado diz respeito à administração do hospital e tem de ser clarificado o que lhe aconteceu”, afirma o responsável daquela associação.

“Onde está a entrada e a saída? Em que conta foi depositado? Acho muito bem que o Ministério Público investigue”, diz Jorge Pires.

Entretanto, a empresa Casais, o Grupo a quem foi entregue a construção da ala pediátrica, garante não ter conhecimento de qualquer inquérito.

Numa resposta à Renascença, por e-mail, a empresa assegura que "ninguém foi chamado ou contactado para prestar esclarecimentos", adiantando que tudo aponta para que "este processo terá um grande histórico que é anterior à contratação da empresa", não tendo por isso "nada a ver com o trabalho de construção", entretanto iniciado.

Questionado pela Lusa, o presidente da Associação O Joãozinho, Pedro Arroja, garantiu que a mesma "nunca" foi contactada pelo DIAP e, portanto, desconhece qualquer investigação.

[Notícia atualizada às 23h00]