A coordenadora das I Jornadas do Núcleo de Estudos de Medicina Paliativa da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna alertou, esta quarta-feira, para o facto dos cuidados paliativos serem introduzidos demasiado tarde nas doenças oncológicas e não oncológicas.
Elga Freire falava a propósito do encontro que se realiza sábado, no Porto, no qual se irá destacar os cuidados paliativos não oncológicos, já que “os cuidados paliativos continuam a ser muito associados às doenças oncológicas e introduzidos apenas numa fase terminal”.
De facto, “apesar de ser já consensual que deve haver uma introdução precoce dos cuidados paliativos no tratamento das doenças oncológicas e não oncológicas, a par de todos os outros cuidados, mesmo que o objetivo seja curar, estes continuam a ser associados às últimas semanas ou meses de vida dos doentes”, considerou.
Neste âmbito, sustenta a especialista em medicina interna e coordenadora do Núcleo de Estudos de Medicina Paliativa, “aos médicos cabe fazer a avaliação de necessidades de doentes complexos e suas famílias, providenciar alívio de sintomas, saber comunicar eficazmente e trabalhar em equipa”.
Sobre o facto das jornadas se centrarem no debate dos cuidados paliativos não oncológicos, a especialista explicou que é “importante alertar que as doenças não oncológicas, nomeadamente as insuficiências de órgão como a insuficiência cardíaca, a doença renal crónica avançada, as doenças respiratórias crónicas, a doença hepática avançada ou a sida são áreas que carecem de uma atenção específica em cuidados paliativos. Esse é um dos objetivos destas jornadas”.
Salientou que “grande parte das ações de formações e reuniões científicas no âmbito de cuidados paliativos se dedicam sobretudo aos doentes oncológicos, quer a população em geral, quer a população médica ainda associa estes cuidados a esta área”.
Em seu entender, “um dos grandes desafios vem da parte das doenças neurológicas e degenerativas, nas quais se incluem as demências e a esclerose lateral amiotrófica, entre muitas outras”.
Quem sofre destas doenças é, de acordo com a especialista, “cada vez mais alvo dos cuidados dos internistas”, sendo por isso necessário que “estes estejam também preparados para lidar com estas situações. E cada vez mais cedo”.
Com estas jornadas, o Núcleo de Estudos de Medicina Paliativa da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna pretende dirigir-se “a todos os profissionais de saúde que lidam com pessoas com doenças graves e/ou avançadas e progressivas, sejam da medicina interna, dos cuidados paliativos, ou dos cuidados de saúde primários”.
No encontro, que decorrerá no auditório da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, no Porto, serão partilhadas as experiências de vários internistas e serão apresentados e discutidos exemplos de organização de resposta multidisciplinar às necessidades específicas das doenças neuromusculares em ambiente hospitalar e domiciliário.