Rússia alerta NATO para risco de "verdadeira guerra nuclear"
12-05-2022 - 11:50
 • Marta Grosso com Lusa e Reuters

A adesão da Finlândia à Aliança Atlântica é "definitivamente" uma ameaça à Rússia, avisa o Kremlin, no dia em que os líderes finlandeses defenderam uma adesão “sem demora” à organização. Ex-Presidente russo acusa o Ocidente de cinismo e reforça aviso.

A ajuda militar à Ucrânia e os exercícios da NATO perto das suas fronteiras aumentam a probabilidade de um conflito direto com "risco de se transformar numa verdadeira guerra nuclear", avisou nesta quinta-feira a Rússia.

O alerta foi lançado pelo vice-presidente do Conselho de Segurança russo, Dmitri Medvedev, no dia em que o Presidente e a primeira-ministra finlandeses divulgaram o seu apoio à adesão da Finlândia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, ou OTAN na sigla em português).

Medvedev não menciona a possibilidade de a Finlândia e a Suécia poderem aderir à NATO (isso é feito numa declaração do Kremlin), mas acusa os países da Aliança Atlântica de estarem a aumentar o risco de uma guerra total com o seu apoio militar à Ucrânia na guerra com a Rússia.

“Os países da NATO a fornecer armas à Ucrânia, a treinar as suas tropas para utilizar equipamento ocidental, a enviar mercenários e os exercícios por países da Aliança perto das nossas fronteiras aumentam a probabilidade de um conflito direto e aberto entre a NATO e a Rússia, em vez da 'guerra por procuração' que estão a travar", escreveu Medvedev na rede social Telegram.

“O objetivo [de Washington] é manter uma guerra por procuração contra a Rússia, infligir uma grande derrota ao nosso país, limitando o desenvolvimento económico e a influência política no mundo”, acusou o antigo Presidente.

Contudo, Dmitri Medvedev garante estar convencido de que os Estados Unidos “não atingirão os seus objetivos”, porque “a sua máquina de impressão de dinheiro quebrará primeiro”.

No texto, citado pela agência russa TASS e a espanhola EFE, Medvedev avisa que "um tal conflito tem sempre o risco de se transformar numa verdadeira guerra nuclear", o que “será um cenário catastrófico para todos”, disse.

Medvedev foi Presidente da Rússia entre 2008 e 2012 e primeiro-ministro entre 2012 e 2020.

Ocidente tem de pensar nas consequências

Como aliado do líder Vladimir Putin, Dmitri Medvedev acusou o Ocidente de cinismo e de colocar no "topo da agenda" internacional a "tese de que a Rússia assusta o mundo com um conflito nuclear".

Por isso, referiu, o Ocidente não deve enganar-se a si próprio ou os outros, mas "pensar nas possíveis consequências dos seus atos".

O ex-Presidente reafirmou – como já tinha feito quando criticou os Estados Unidos de estarem a fornecer ajuda militar "sem precedentes" a Kiev – a acusação ao Ocidente de travar uma guerra por procuração contra a Rússia na Ucrânia.

Finlândia na NATO? “Definitivamente” uma ameaça

A guerra na Ucrânia levou a Finlândia e a Suécia a ponderar o abandono da sua neutralidade histórica para aderir formalmente à NATO – uma posição que mereceu, nesta quinta-feira, uma reação do Kremlin, que considerou que tal adesão constitui, “definitivamente”, uma ameaça à Rússia.

“A expansão da NATO não torna o nosso continente mais estável e seguro”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

Medvedev também avisou que a entrada da Finlândia e da Suécia na Aliança Atlântica pode vir a ter "efeitos políticos e militares" para os dois países.

O Presidente e o primeiro-ministro finlandeses defenderam, nesta quinta-feira, a adesão do país ao bloco militar "sem demora" – algo que, a acontecer, representa, no entender de Moscovo, a adoção de "medidas hostis" contra a Rússia por parte da Finlândia.

A adesão à NATO constitui a maior alteração na política de defesa e de segurança do país nórdico desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando travou duas guerras contra a União Soviética.

Durante o período da Guerra Fria, a Finlândia ficou longe da NATO para evitar provocar a União Soviética, optando por permanecer como país neutral e mantendo boas relações com Moscovo e com Washington.

Nas últimas semanas, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse que a aliança militar acolheria a Finlândia e a Suécia – países com Forças Armadas "fortes e modernas" – "de braços abertos" e que esperava que o processo de adesão fosse rápido e tranquilo.

A vizinha Suécia, outra potência tradicionalmente neutra, também já manifestou vontade de aderir à Aliança Atlântica.

Antes da invasão, a Rússia exigiu a proibição da entrada da Ucrânia na NATO e o recuo de tropas e armas da organização para as posições de 1997, antes do alargamento a Leste.

Com a invasão, além de sanções económicas sem precedentes do Ocidente contra a Rússia, mais de 25 países, incluindo Portugal, anunciaram o envio de material militar para a Ucrânia, num esforço conjunto para ajudar Kiev a resistir e a fazer recuar a invasão russa, iniciada em 24 de fevereiro.

O objetivo de travar a expansão da NATO a Leste foi um dos argumentos usados pela Rússia para entrar em guerra com a Ucrânia.