A perceção geral dos cidadãos é de que o contributo das empresas para o bem-estar dos trabalhadores e da sociedade é “mediana” e, talvez por isso a maioria (55%), admite o mesmo grau de envolvimento com o local onde trabalham.
É uma das conclusões de um estudo realizado pelo BNP Paribas Personal Finance, em parceria com os Conselheiros do Comércio Externo de França em Portug, que vai ser apresentado esta terça-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, em que se alerta para o distanciamento do tecido empresarial. .
Numa altura em que a retenção de talento é fundamental e em que as contratações não dependem apenas do salário, mas de uma multiplicidade de fatores (refeitório na empresa – 33%, dias de férias extra – 31%, planos de saúde – 20%), ser mediano pode ser visto como pouco.
O trabalho, intitulado “Desenvolvimento Humano, fator-chave para o sucesso de Portugal - o contributo das empresas francesas”, defende que é preciso “repensar os modelos de trabalho”. Melhorar as empresas e os profissionais passa por mais diálogo, mais valorização das pessoas, mais equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Este trabalho ouviu cidadãos em território nacional, empresas francesas em Portugal e vários autores de Universidades e Empresas.
Portugueses pouco envolvidos
Apenas um em cada quatro inquiridos (24%) diz ter um grau de envolvimento muito elevado com a empresa onde trabalha. A maioria identifica-se com a empresa, mas não passa à ação, aponta para um "envolvimento q.b." e 16% admite mesmo que não há envolvimento ou é muito baixo.
Nove em cada dez até avalia positivamente a entidade empregadora, mas as notas descem quando são questionados sobre salários, benefícios ou flexibilidade de horário.
Cerca de metade do universo (52%) sente-se feliz no trabalho.
"Gaps" entre expectativas e práticas
Este estudo identifica vários “'gaps' entre as expectativas dos profissionais e as práticas empresariais”, fator que, para os autores, pode ajudar a explicar o “baixo nível de envolvimento com as organizações”.
Apesar da prioridade que é dada à formação pelo Governo, Comissão Europeia e demais organizações nacionais e internacionais, “a formação é ainda pouco regular”.
A integração nas empresas de novos perfis, mais jovens, é considerada um sinal positivo. No entanto, deve ser acompanhada pela criação de “oportunidades para que os colaboradores com maior antiguidade e competências hoje menos estruturais, possam evoluir e desempenhar outras e novas funções”.
Os autores do estudo concluem que “a perceção geral é a de que as empresas investem mais na criação de oportunidades aos jovens do que em acompanhar o desenvolvimento dos que contribuem para as organizações há mais tempo”.
Metade dos inquiridos considera importante prolongar a vida ativa dos trabalhadores, apenas um terço acredita que os mais velhos encontram facilmente novo emprego, também um terço defende que os mais velhos têm facilidade em manter o emprego.
As práticas empresarias estão ainda longe do desejável no campo da diversidade e inclusão: “seja na (falta) de paridade entre homens e mulheres em cargos de liderança, na contratação de pessoas com deficiência, entre outros”.
Este trabalho conclui também que “são ainda poucas as empresas que referem, por exemplo, apoiar regularmente associações ou instituições de cariz social”, sobretudo privadas. Quase metade (48%) diz que a empresa onde trabalha não faz voluntariado corporativo.
Os autores reafirmam que hoje os cidadãos querem ação. Não basta anúncios e promessas: as empresas devem fazer parte da solução.