Não trouxe nada escrito, foi ao correr da conversa que fez a conferência inaugural das Correntes d’Escritas. O médico Manuel Sobrinho Simões, professor emérito da Universidade do Porto, especialista em diagnóstico e investigação na área do cancro, em especial da tiroide deixou várias reflexões ao publico do encontro literário.
Segundo as palavras do clínico, “em Portugal deveríamos preocuparmo-nos mais com a saúde do que com a doença” e, por isso, repetiu várias vezes a importância de fatores como a alimentação, a educação e o exercício físico para a preservação dessa saúde.
Na opinião do fundador do Ipatimup e do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, é necessário “mudar de políticas e tornar menos destorcedores os interesses comerciais” na área da saúde.
De acordo com o médico, que considera que “dentro de alguns anos, o problema dos cancros estará controlado”, atualemnte há “diagnóstico em excesso”. Na sua opinião, “as pessoas têm de aprender a não atuar. Devemos ter informações, e ter conhecimento, mas muitas vezes temos de saber dizer ‘não mexe’”.
Perante uma plateia do Cine-Teatro Garrett cheia, numa conversa moderada pelo jornalista José Carlos Vasconcelos, Manuel Sobrinho Simões referiu ainda que aqueles que considera os problemas atuais
“A longevidade crescente” é um desses problemas, apontou o médico que disse não estar a ser controlada. Outro dos problemas inumerados foi a “desigualdade crescente e insustentável que tem a ver com as doenças”. Sobrinho Simões apontou também “o ecossistema global” e a sua “sustentabilidade”, como outro dos desafios atuais.
Questionado sobre o público, Manuel Sobrinho Simões falou ainda das consequências da Covid-19. “Há pessoas que tiveram formas leves de Covid-19 com problemas respiratório e que hoje têm problemas de fibromialgias e problemas do palato e do cheiro, e nós não sabemos porquê. Não podemos fazer uma biopsia” para saber, explicou.
Já no início da sua intervenção, o médico falou da questão da pandemia e tinha lamentado que só se tivessem feito “5 autopsias a doentes que morreram por Covid”. Para saber mais sobre as consequências ao nível da tiroide que Sobrinho Simões estuda, o médico explicou que teve de fazer um acordo com colegas brasileiros para poder estudar a relação entre a Covid e os problemas da tiroide.
Já sobre a recolha de dados, Manuel Sobrinho Simões questionou “a qualidade dos nossos dados”. “Não é tão boa, como gostaria” criticou o médico laureado com o Prémio Pessoa. Na sua opinião, “mais do que ter muitos dados, é termos dados com qualidade”.