Vagos, o verdadeiro pafistão
É o concelho de Portugal em que a coligação PSD/CDS alcançou o resultado mais retumbante. Mais do que dois em cada três eleitores deste concelho do distrito de Aveiro pôs a cruz na coligação PAF, num total de 70,72%. Um verdeiro “pafistão” ou “passistão”, depois de na campanha o nome ter sido dado a Viseu.
Ainda assim, os dois partidos tiveram uma quebra de apoio popular. Há quatro anos tinham alcançado 81,76%. O resultado da PAF é apenas um pouco mais expressivo em termos absolutos do que aquele que o PSD alcançou sozinho em 2011.
Em sentido contrário, o PS obteve ali o pior resultado no continente (12,73%) – ainda assim, mais do que os 9,37% de 2011. Menos só na Calheta, Madeira, em que os socialistas não chegaram sequer aos 10%.
Mariana Mortágua e os 100 de Alvito
Uma das revelações do Bloco de Esquerda é natural de Alvito. No concelho do distrito de Beja, o Bloco teve apenas 100 votos (8,61%), ainda assim mais 69 votos do que há quatro anos. Um resultado que fez o Bloco sedimentar-se como a quarta força concelhia.
Mas aquela que foi considerada o maior pesadelo do banqueiros e gestores da comissão de inquérito ao caso BES tem mais do que razões para estar contente. Afirmou-se como líder política e, como cabeça de lista de Lisboa, Mariana ajudou o partido a ganhar mais dois deputados do que em 2011 pelo círculo da capital.
PAN não ficou a zeros em Barrancos
Foi a grande surpresa da noite eleitoral. O Pessoas, Animais e Natureza obteve mais de 22 mil votos em Lisboa e elegeu um deputado.
Mas há votos que devem ter um sabor ainda mais especial. Em Barrancos, Beja, terra que as famosas touradas trouxeram para a ribalta mediática, o PAN conseguiu dois votos.
Em Vila Flor, Bragança, onde a tradição de queimar um gato vivo indignou o país, o partido que elegeu André Silva obteve a confiança de 20 cidadãos.
A hecatombe da PAF (muito localizada)
Apesar da vitória clara que os partidos da coligação obtiveram, houve vários distritos em que o comparativo com 2011, ano em que CDS e PSD concorreram separados, deixa muito a desejar. O caso mais evidente foi a sul, no distrito de Faro em que a coligação perdeu 18 pontos percentuais.
Há quatro anos, só o PSD sozinho elegeu mais deputados, quatro, do que os três que a a PAF agora alcançou. Em termos absolutos, os sociais-democratas conseguiram 74.491 votos, mais 15 mil do que obtiveram agora em coligação com o CDS.
Um país meio laranja, meio rosa e com quatro pontos vermelhos
Olhar para os resultados destas eleições é ver um país dividido entre o Norte PAF e o Sul PS.
Nas projecções da noite eleitoral, o facto até levou um socialista que assistia à divulgação dos resultados no Hotel Altis, sede de campanha dos socialistas, a dizer que os resultados mereciam que o Sul avançasse para a independência.
De facto, verifica-se que acima de Coimbra apenas seis concelhos deram a vitória ao PS (Mealhada, Gondomar, Matosinhos, Baião, Santa Marta de Penaguião e Paredes de Coura).
Abaixo de Lisboa, a coligação de direita apenas somou vitórias em três concelhos algarvios: Loulé, Albufeira e São Brás de Alportel.
Pelo meio, sobram apenas cinco bastiões comunistas no Alentejo: Avis, Mora, Arraiolos, Montemor-o-Novo e Serpa.
Fidelidade de Passos a Manta Rota não compensa
Todos os anos, Passos Coelho segue para férias até ao Algarve. Mais concretamente, a Manta Rota, pequeno lugar da freguesia de Vila Nova de Cacela, em Vila Real de Santo António. O momento é também de peregrinação para os jornalistas em época estival.
Há quatro anos, o PSD vencia ali com quase 37%. Desta vez, em coligação com o CDS, o resultado não chegou aos 33%. É caso para dizer que o trabalho de Passos na promoção da Manta Rota como destino turístico não foi compensado.
Sardoal foi além das fotos no Facebook. Foi votar
O distrito de Santarém tem o município com a menor taxa de abstenção do país (29,53%). O Sardoal, habitual estrela da participação eleitoral, ficou muito abaixo da média nacional, que se situou nos 43,07%.
Além do Sardoal, também o concelho vizinho de Vila de Rei, no distrito de Castelo Branco, registou níveis de afluência às urnas acima dos 70% e a segunda menor taxa de abstenção (29,57%).
Por distritos, apenas Lisboa e Porto ficaram abaixo dos 40%.
Quinze goleadas da dupla Passos/Portas
Apesar de este ter sido o segundo pior resultado de sempre do PSD e CDS juntos (pior só em 2005, aquando da maioria de Sócrates), há 15 municípios onde a vitória da PAF é retumbante.
Um terço desses concelhos é no distrito de Aveiro e neles dois em cada três eleitores (mais de 60%) preferiu a coligação.
Como fazer pior do que um resultado horrível? O PS mostrou como
Em 2011, José Sócrates sai do Governo e deu entrada a troika no país. O PS vivia um contexto eleitoral penoso com uma bancarrota à perna. Os resultados foram maus. Entretanto, passaram quatro anos de austeridade com medidas muito duras para o povo português.
Pode o maior partido da oposição não o capitalizar? Sim. O PS demonstrou-o em Braga e Porto. No distrito minhoto teve um resultado dois pontos percentuais abaixo de 2011. No Porto, o resultado foi igual ao de há quatro anos.
Açores a branco e Madeira nula
Há uma particularidade que distingue as duas regiões autónomas nestas eleições.
Os Açores são o círculo eleitoral com maior percentagem de votos em branco, num total de 3,25%, a que se soma uma abstenção de quase 60%.
Já em termos de votos nulos, vence a Madeira, com 2,88% dos votos colocados em urna a não contarem para as contas das legislativas.